Para não variar, Ricardo Lopes Moura termina o seu livrinho com mais um conto que tinha potencial para ser bastante melhor do que acaba por ser. Pai de Família é uma história muito americana, por mais que se ambiente em Portugal, e de um fantástico que talvez tente ser horror mas não consegue realmente ter o impacto necessário. O enredo resume-se facilmente. Num hospital dão entrada duas pessoas vítimas de traumas violentos; uma dessas pessoas, um médico, sofeu um acidente de viação; a outra, um criminoso, foi baleado durante um assalto. O médico salva-se, após uma demorada operação; O assaltante não mas, por algum motivo misterioso, a consciência deste é transferida para o corpo daquele. E o que se segue é a história da recuperação do criminoso no corpo do médico, e da vingança que vai fazer cair sobre os outros bandidos que o tramaram.
É uma ideia com pernas para andar. E até se pode dizer que o enredo está bem concebido, mesmo sem ser particularmente original. Infelizmente, não só o racismo subjacente a toda a história é muito dispensável (o criminoso, claro, é preto, um cliché de gangsta rap; o médico, claro, é branco... como se tivesse sempre de ser assim), como as fragilidades de Moura no tratamento da língua portuguesa saltam demasiado à vista. Mesmo que se possa culpar a revisão (ou sua ausência) por não ter apanhado disparates como "trabalhava ali à dez anos" ou "dissipar-se-à", para só falar em questões ortográficas e não no uso desadequado de certas palavras e expressões, que também está demasiado presente, a verdade é que em última análise a responsabilidade cimeira é do próprio autor, que os cometeu.
E o resultado é um conto que chega a duras penas à categoria do razoável (estou a sentir-me generoso) quando poderia ser bom. Potencial desaproveitado...
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