Quando um leitor contemporâneo se põe a ler antologias ou coletâneas antigas de ficção científica já conta à partida (se não for tolinho) encontrar histórias com temas, abordagens ou ambientes caídos em desuso no género há várias décadas. Mas também conta, pelo menos se conhecer a época de publicação da dita antologia ou coletânea, encontrar histórias que, na época dessa publicação, fossem razoavelmente modernas.
Ora, não é isso o que Ney Moraes apresenta com o seu Desafio. Apesar de este conto estar bem escrito e razoavelmente bem concebido, já era antiquado quando foi escrito no início dos anos 60. Conta a história de um homem que encontra um companheiro invulgar numa viagem de autocarro, e este, quando a páginas tantas sai algo abruptamente do veículo, deixa lá ficar um manuscrito incompleto. Um manuscrito que relata uma daquelas histórias de génio isolado que tão comuns eram na FC do início do século XX, o qual teria inventado uma estranha máquina cuja verdadeira natureza nunca chega a ficar clara, o que deixa o passageiro-protagonista leitor mergulhado em insatisfação.
Tudo nesta história, do estilo ao tema, passando pela estrutura, remete para a ficção científica e o horror de há cem anos ou mais, o que torna o conto bastante anacrónico. Não mau, mas anacrónico. E não me parece que se trate de anacronia propositada usada como artifício literário, o que se bem feito até poderia melhorar o conto. Não. Tudo indica que estamos perante outro fenómeno: um autor que não conhece a ficção científica mais sua contemporânea, ou então conhece e não gosta dela. E isso não melhora o conto.
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