Mary Postgate é um conto repugnante. Escrito por Rudyard Kipling (sim, o do Livro da Selva, de Mowgli e companhia) durante a I Guerra Mundial, e bastante bom, literariamente falando, consegue a façanha de ser misógino tendo uma mulher como protagonista e é discurso de ódio do mais puro e virulento que já encontrei na literatura. Pior: porque Kipling era bom a fazer o que fazia, é discurso de ódio eficaz.
O enredo é contemporâneo da escrita. Na Inglaterra da I Grande Guerra um avião alemão despenha-se e a sua queda mata uma rapariguinha. Mais tarde, Mary Postgate, a protagonista, encontra o aviador, ferido. Este tenta render-se. Ela assassina-o a sangue-frio. E o tom de Kipling, a forma como desumaniza por completo o aviador (é tratado por "a coisa") é óbvio: assim é que é. O homem é um inimigo, logo é para matar. Tenta render-se? Não importa: mate-se. Nem uma palavra ou um pensamento é dedicado à possibilidade de se tratar de um militar recrutado à força e não ter grande vontade de andar por aí a matar gente, de estar apenas a cumprir as ordens que lhe são dadas. No mundo de Kipling isso não existe: é inimigo? Mate-se.
Um nojo. Boa literatura, mas um nojo.
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