E depois há contos assim.
Nunca tinha ouvido falar de Nelson Leirner, e bastou-me começar a ler este seu O Espelho para perceber com total clareza porquê. "Existem no universo homens quanto no firmamento estrelas", começa ele. Como? Por mero acaso não faltará aí um "tantos", algures? "Definindo astronáutica não diria ser somente a ciência que estuda o vôo espacial", continua, muito pouco depois. A falta que fazem as vírgulas! E, muito pouco depois, "Para muitos, que nunca saíram de nosso planeta chega a ser o encontro com o absurdo." A falta que faz entender como funcionam as vírgulas! No terceiro parágrafo (todos bastante curtos), fala de "Cores que fogem ao espectro." A falta que faz saber o que é um espectro! E logo a seguir: "Meu amigo Enovacs, o primeiro astronauta a desembarcar em Titã descrevia suas experiências neste planeta" onde se percebe que a total taralhoquice com vírgulas não é casual mas sistemática e se fica a saber que o bom do Leirner é amigo ou fã do Rubens Teixeira Scavone: Enovacs é Scavone ao contrário.
E chega. Já perceberam. Este conto é péssimo, um exemplo típico daqueles contos e autores que usam a linguagem da ficção científica sem a compreenderem nem quererem compreendê-la, como mero artifício poético. No caso de Leirner é ainda piorado pelo deficiente manejo da língua que viram acima e por uma ideia sobre mundos-espelho que até podia dar (e deu) histórias com algum interesse mas que aqui está tão mal executada que se termina de ler este conto curto com um suspiro de alívio. Dos piores contos que li no ano passado. Para esquecer.
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