Tal como acontece com o conto de Scavone A Bôlha e a Cratera, também este George e o Dragão se insere na corrente lunar da ficção científica de meados do século XX. Mas nenhuma caixinha é estanque e esta, a da FC lunar, também não, pelo que este conto de Álvaro Malheiros é também uma história de naufrágio espacial e de mais algumas coisas.
Sem a procura de burilamento literário que se sente na ficção de Scavone, com uma prosa mais direta e objetiva (e, sim, de menor qualidade), este conto de Malheiros consegue apesar disso ser mais interessante. George, o protagonista, é um náufrago espacial, o primeiro homem a pousar na Lua, mas incapaz de dela sair e regressar à Terra. Está longe de ser a única história já escrita com esta premissa; em algumas, o astronauta perdido não tem possibilidade de salvamento e só lhe resta tentar morrer o melhor possível; noutras, essa hipótese existe e é a esperança de sobrevivência que faz mover a história. A história de Malheiros pertence ao segundo grupo, pois o lançamento rápido de uma segunda expedição estava nos planos no caso de alguma coisa correr mal.
Essa expetativa é parte do que torna o conto interessante, mas talvez a parte mais relevante nem seja essa: é a lenta alteração do estado de consciência do astronauta à medida que o tempo vai passando, causada por algum fenómeno que o autor não deixa claro apesar de fazer referências vagas ao calor do longo dia lunar. Seja como for, é inteiramente verosímil que, seja lá por que motivo for, um astronauta numa situação assim comece a perder o pleno das suas capacidades mentais, podendo até chegar a um estado alucinatório. E isso faz com que esta FC seja bastante hard. O que é muito curioso se tivermos em conta as referências fantasistas que o conto apresenta e o título já sugere.
Este é outro ponto alto desta antologia. Não tão alto como alguns dos outros, certamente, mas o contraste com o conto que o antecede, por exemplo, é intenso.
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