Quanto mais o tempo passa, mais se solidifica em mim a ideia de que os projetos mais longevos e bem sucedidos são simultaneamente aqueles que têm os inícios mais despretensiosos, movidos muito mais pelo puro gosto de fazer as coisas do que por calculismos ou ambições, financeiras ou outras.
E o Megalon é um bom exemplo disso mesmo. Arrancou em 1988 com este nº 1 (bibliografia) e foi sendo publicado, entre os altos e baixos típicos destas coisas, até 2004, cifrando-se o saldo final em 71 números e largas centenas de contos (incluindo um número muito significativo que veio mais tarde a merecer publicação profissional) e artigos, quase sempre sob a batuta do seu editor principal, Marcello Simão Branco, ainda que neste número tivesse a coeditoria de Renato Rosatti, o qual o acompanhou nos primeiros anos.
E o começo dificilmente poderia ser mais modesto. A um só conto, muito curto e bastante mauzinho, somam-se quatro artigos e uma entrevista e está a coisa feita. A entrevista é de longe a parte mais interessante do fanzine; trata-se de uma adaptação de uma entrevista a Alfred Bester, um dos melhores autores americanos de FC da segunda metade do século XX, falecido não muito tempo antes da publicação deste número inaugural do Megalon. Os artigos pouco interesse têm, especialmente hoje em dia, consistindo em notícias sobre edições e movimentações do fandom (que acompanharam toda a vida do Megalon), brasileiro e não só, e opiniões sobre um par de filmes.
Desta modestíssima semente saiu uma das mais importantes publicações brasileiras de FC, a par do também fanzine Somnium e, noutro patamar, das versões locais da Asimov's e da F&SF. Mas enquanto estas últimas duraram um ou dois anos cada e encerraram após não mais que uma vintena de números, o Megalon durou quase quinze anos e o Somnium ainda hoje se publica. Elucidativo? Parece-me que sim.
Eis o que achei do único conto desta publicação:
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