domingo, 28 de julho de 2019

Luiz Gustavo Saldanha: O Personagem Heleno

E de novo tenho de falar de purple prose.

Não vou repetir tudo o que disse aqui, naturalmente, mas a maior parte do que aí ficou expresso também se aplica a O Personagem Heleno, pequeno conto de Luiz Gustavo Saldanha. A maior parte, não tudo. É que a história de Saldanha, apesar de continuar a escorrer púrpura, é melhor. Porque é muito menos cliché. E também porque é bastante mais curta, o que torna os arrebiques menos cansativos.

Aqui estamos em meio teatral. O personagem Heleno é o protagonista, jovem — catorze anos — apaixonado pela representação, mas tímido, ou talvez apenas reservado. Apesar da namorada, é esse o seu verdadeiro amor. Por isso não hesita quando, depois de ganhar coragem para pedir um papel ao professor, o seu primeiro, descobre que todos os papéis masculinos já estão ocupados: aceita imediatamente um papel feminino, escolhe-o e atira-se ao estudo.

O conto descreve (purpuramente) como ele vai encarnando a personagem, mergulhando cada vez mais profundamente no travestismo, encontrando aí uma espécie de felicidade. É uma história interessante e invulgar, surpreendente o suficiente para sustentar o interesse até ao fim, que a forma como está escrita quase estraga. Sem tantos arrebiques, este podia ser um bom conto. Mas a prosa pretensiosa de Saldanha não deixa. Pena.

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