sábado, 27 de julho de 2019

Luísa Costa Gomes: Mania

Luísa Costa Gomes. Ora aqui está um nome que eu já conhecia, o que não tem sido lá muito frequente nestes contos publicados eletronicamente pelo DN. Conhecia de ter lido vários contos seus, não muitos... e de só ter gostado medianamente de um. Os outros... bem... Ora me pareceram banais, ora traziam uma espécie de humor e/ou ironia que não ressoa com o meu ou a minha, enfim, deixaram a desejar. Não tenho queixas relativamente ao português, que costuma ser bem tratado, mas como não é só de português que se faz a literatura, mesmo a que se faz em língua portuguesa, parti para a leitura desta Mania com as expetativas razoavelmente baixas.

E a história correspondeu à expetativa. Mania é um conto razoavelmente longo — 7 mil e muitas palavras, provavelmente já a passar a noveleta — ambientado numa Lisboa que talvez seja contemporânea (ou quase; este é o único conto que li até agora nesta coleção que não é inédito, pelo que a contemporaneidade será referente à época da primeira publicação), mas a fazer lembrar outros tempos e paragens, cheio de mulheres fatais, espionagens sentimentais e traições. Às vezes encontram-se neste tipo de temas e ambientes histórias interessantes, mas é cada vez mais raro porque estão bastante saturados desde para aí os anos 50.

E em parte por isso, Luísa Costa Gomes não cria uma história interessante. Sim, o português é tão competente como é hábito, mas o resto é uma história confusa, mais pela forma como é contada do que propriamente pela história em si, como se a autora procurasse ocultar a simplicidade e curta criatividade do enredo atrás de uma narrativa emaranhada, brumosa, sufocada pelo peso da "literatura", palavra que vai entre aspas porque segundo a minha forma de ver as coisas literatura não é bem o que demasiada gente julga que é.

Mas o que mais me desagradou nesta história foi uma muito intensa sensação de vazio. Aquela sensação que leva sempre à interrogação "sim, e daí?" A sensação de que o escritor está basicamente a escrever sobre nada. É bastante possível que seja uma sensação injusta mas não posso negá-la. É também provável que o facto de me ter sido impossível acreditar realmente em alguma destas personagens a tenha amplificado. Trata-se de uma sensação que tenho muitas vezes a ler literatura das duas extremidades do espectro literário: o pulp por um lado e a literatura demasiado preocupada em ser literária pelo outro. O curioso desta história é ir buscar temas e ambientes ao pulp e estilo narrativo ao outro lado, quase conseguindo juntar o pior de ambos. O que a salva, impedindo-a de ser realmente má, é a correção do uso do português. Mas que mesmo apesar disso é bastante fraca, é.

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