Como qualquer leitor bem sabe, às vezes há compras por impulso, e o que dá origem ao impulso podem ser as coisas mais variadas. Pode ser qualquer coisa na capa, pode ser algum detalhe da sinopse, pode ser um blurb, podem ser montes de coisas. No caso deste Fábulas do Tempo Presente... e do Tempo Futuro foi o título que me fisgou. Fábulas do tempo futuro? Haverá aqui alguma coisa relacionada com ficção científica?
Lido o livro, fica desfeita a dúvida: não há.
O que há são fábulas, bastante bem contadas em verso. Algumas são adaptações de fábulas bem conhecidas (duas ou três já constam da obra de Esopo), outras parecem ser criações novas do próprio Carlos Couceiro, embora eu não conheça o suficiente deste tipo de obra literária para ter tal certeza. E todas são fábulas na plena aceção da palavra, com os seus animais falantes e antropomorfizados e moralidade implícita, evitando-se aqui, felizmente, a tentação de explicitar a moral de cada uma.
A impressão mais intensa que fica é a de textos para serem ditos em voz alta. Ao longo de toda a leitura não me saiu da cabeça a imagem de um grupo de contadores de histórias, mais ou menos teatralizadas, rodeado por uma plateia de miúdos. A capa de formas simples cheia de cores primárias e as profusas ilustrações internas reforçam essa impressão de livro concebido sobretudo para públicos de tenra idade, mas o texto propriamente dito não é tão infantil como se poderá supor. Há nele abundância de ironia e bastante política (a qual explica, de resto, o "tempo futuro" do título), sobretudo nas primeiras fábulas, e uma razoável sofisticação nas rimas e nos ritmos que mais facilmente será apreciada por adultos que por crianças.
Em suma, se este livrinho — é bastante curto, com apenas 105 páginas — por um lado me desapontou por o tempo futuro que alardeia no título nada ter a ver com FC, por outro não posso dizer que me tenha desagradado. É daqueles livros que fazem bem aquilo a que se propõem e isso é absolutamente respeitável.
Este livro foi comprado.
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