terça-feira, 16 de julho de 2019

Terence M. Green e Andrew Weiner: Vinte e Dois Passos Para o Apocalipse

E cá está o conto que menos me agradou neste número da IAM.

Vinte e Dois Passos Para o Apocalipse (bibliografia) divide-se, naturalmente, em vinte e um curtíssimos capítulos (o vigésimo segundo será o apocalipse propriamente dito, supõe-se), constituídos sobretudo por diálogos entre uma panóplia de personagens que se veem impelidas a fazer coisas mais ou menos contra a sua vontade, assim um pouco à semelhança do que acontece com as personagens dos Encontros Imediatos do Terceiro Grau, filme que aparentemente terá tido algum impacto sobre os autores. Autores esses que eu nunca tinha lido, julgo. Terence M. Green, de resto, só tem por enquanto esta obra no Bibliowiki, enquanto Andrew Weiner tem mais duas, nenhuma das quais me passou pelas mãos até agora.

Tudo gira em volta de Plutão, onde desperta uma entidade gigantesca cuja real natureza não chega a ficar inteiramente clara mas é pelas personagens tratada por "deus". E esse despertar reflete-se na Terra, levando os "escolhidos" aos seus atos semi-involuntários e à montagem de uma expedição tripulada ao planeta. Há religiões novas que aparecem do nada, há muita loucura aparente. Há pitadas de filosofia e de teologia e há uma leve sugestão de horror cósmico a la Lovecraft. Mas tudo pintado em rápidas pinceladas, que o conto não é muito extenso, e com pouca profundidade.

E é aí que reside a sua grande falha. Tudo sabe a esboço, a coisa pouco palpável, pouco sólida. Há uma série de pormenores que se minimamente explicados ou enquadrados talvez pudessem parecer mais que tolices mas que não o chegam a ser. E o conto fica gratuito, uma construção etérea que se desfaz com um sopro. Numa publicação com menos histórias realmente boas, talvez não destoasse tanto, mas nesta destoa. Este conto é fraquinho.

Contos anteriores desta publicação:

4 comentários:

  1. Plutão é o planeta de onde vêm alguns extraterrestres nos contos de Lovecraft. Faz sentido e este conto deve ser sido inspirado precisamente aí. Inclusive na ideia de adorar um "deus" e das religiões "maradas" (culto de Cthulhu, etc).

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    1. Hm...

      É capaz de ser isso, sim. Eu não conheço todo o Lovecraft (e do que conheço não gosto por aí além), e embora me tenha apercebido de uma ligação indireta pode ter-me passado ao lado essa ligação mais direta.

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  2. O primeiro conto de que falo nesta crítica é o melhor (na minha opinião) em que entram os seres de Plutão:
    http://gotikka.blogspot.com/2009/02/h-p-lovecraft-mestre-do-horror-ii.html
    Hoje até nos parece pouco original porque já vimos milhares de histórias derivadas desta.

    Por falar nisso, há uma corrente de escritores a escrever de propósito a imitar Lovecraft. Sim, de propósito. E há uma audiência para este tipo de contos. Descobri isto recentemente. Li alguns contos deste tipo de escritores e surpreendentemente gostei do que estava a ler. Se calhar porque é uma forma de "literatura de conforto" em que já sei que o que esperar. É como o nosso estilo musical preferido.
    Isto para dizer que este conto aqui da tua crítica pode ter sido escrito de propósito nessa intenção.

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    1. Sim, eu isso já sabia. Mas não fiz a associação direta porque o estilo literário não é lovecraftiano. Está até bem longe disso. A influência é relativamente clara (tanto que eu falo dela ali em cima), mas como o estilo é tão distante do de Lovecraft é possível que a tenha subestimado e ela seja mais forte do que eu julgava.

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