Eu digo com frequência que prefiro o conteúdo à forma literária, por isso imagino que quem leia aqui o blogue com alguma regularidade estranhe um pouco quando aponto às histórias que vou lendo problemas sobretudo de forma. Isso acontece por dois motivos: por um lado, preferir o conteúdo à forma não implica de forma alguma que se ache a forma irrelevante; por outro, quando o conteúdo é intrinsecamente mediano, ou me interessa pouco, é a forma que pode decidir se o resultado cai para o lado agradável ou desagradável da leitura.
No caso deste conto de Sónia Garcia, é a forma que me parece menos bem conseguida. A forma, isto é, a escrita em si, que mostra sinais por vezes demasiado evidentes de uma certa insegurança, e um detalhe estrutural no enredo, pois Garcia tenta sem sucesso fazer mistério de um detalhe fulcral na sua história, que no entanto fica óbvio logo à segunda página.
Do lado bom, temos a estruturação geral do conto, bastante bem conseguida, com grandes saltos temporais e entre ambientes que surgem quase sempre naturalmente com o fluir da história, uma caracterização francamente boa da protagonista feminina (do coprotagonista nem tanto), um uso bem feito do discurso direto e um bom ritmo. Tudo para contar uma história de amor, pois é disso que trata este Decisões Imperfeitas, um amor durante muito tempo desencontrado pelos fluxos e refluxos das decisões de vida dos dois protagonistas.
Trata-se, portanto, de um conto curioso mas com algumas falhas. É significativamente melhor do que o que o antecede, mas pior que o que antecede esse. Se o tema me despertasse mais interesse é perfeitamente possível que tivesse gostado dele, apesar das falhas. Mas não é tema que me interesse por aí além, pelo que saí da leitura razoavelmente indiferente.
Contos anteriores deste livro:
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