quinta-feira, 29 de agosto de 2019

Sacha Andrade Ramos: O Preço de uma Coroa

Tão militantemente monarquista como a história de João Afonso Machado, e apesar de um início que parece querer enveredar pelos mesmos desagradáveis caminhos, rapidamente se percebe que tais receios têm pouco fundamento. É que ao contrário de Machado, Sacha Andrade Ramos já leu história alternativa e sabe o que está a fazer.

A história praticamente abre com um longo infodump, e este é a pior parte do conto. Um infodump usado para despejar a informação necessária para o leitor compreender as premissas da linha temporal alternativa em que o conto se desenrola e que, numa história mais extensa, poderia e deveria ser mais bem distribuída ao longo do texto, intercalada com elementos mais interessantes, mas numa história deste tamanho se torna praticamente inevitável e por isso aceitável. O que não quer dizer que seja bom. O protagonista é o príncipe herdeiro da coroa portuguesa, e o ambiente é uma das praias da Linha, fechada ao público para que sua senhoria pudesse ter uma crise existencial em paz e sossego.

A crise existencial tem a ver com uma decisão fundamental: aceitar a coroa, ou não? Ou por outra, aceitar pagar O Preço de uma Coroa (bibliografia) ou não? A autora usa esse dilema para desenvolver a sua visão do que seria uma monarquia portuguesa moderna caso a república nunca tivesse sido implantada, mas fá-lo bastante bem, introduzindo na trama uma rapariga que atenta contra a vida do príncipe. Uma antagonista com razões de queixa e por isso não propriamente uma vilã, o que impede este conto de resvalar para caminhos mais simplórios. E o risco de isso acontecer era real, pois o príncipe é muito escarrapachadamente o herói; um autor mais ingénuo ou ignorante na arte de contar histórias facilmente se deixaria encurralar nessa armadilha, mas Sacha Andrade Santos não o faz.

E o resultado é um conto que só aquele longo infodump inicial estraga. Não o suficiente para o tornar mau, longe disso, mas o suficiente para não permitir que seja realmente bom. Está entre o bom e o razoável o que, neste livro, parece ser motivo para destaque.

Contos anteriores deste livro:

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