sábado, 3 de novembro de 2018

Lido: Põe-te-Mesa, Asno de Ouro e Cacete-Sai-do-Saco

Há uma regra geral com raríssimas exceções que diz que os contos tradicionais, contos de fadas ou como lhes queiramos chamar, são histórias com moral anexada, histórias cautelares, usadas ao longo dos séculos e dos milénios para inculcar nas crianças e no povo em geral certos princípios de sabedoria tradicional e de bom-senso. Muitos desses princípios foram entretanto ultrapassados pela evolução da sociedade e da tecnologia, pois aquilo que é bom-senso numa sociedade rural está muito, muito longe de continuar a sê-lo numa sociedade urbana e multitudinária. Mas há um punhado de histórias que mantém os seus ensinamentos inteiramente válidos, algumas vezes de forma surpreendente.

O conto com o bizarro título de Põe-te-Mesa, Asno de Ouro e Cacete-Sai-do-Saco é um conto razoavelmente extenso que, apesar disso, não parece ter sido grandemente alterado pelos Irmãos Grimm (à parte, talvez, uma solidificação da sua qualidade literária). A história debruça-se sobre um alfaiate, os três filhos do alfaiate e uma cabra que é, realmente, uma cabra pois, apesar dos rapazes serem bons rapazes e cumprirem integralmente as tarefas que lhes são atribuídas, a cabra mente que não e engana assim o pai. E com isso vai dar origem a um sem-número de problemas e mal-entendidos que levam à expulsão dos três rapazes de casa, após o que a história mete ainda ao barulho um estalajadeiro ladrão. Claro que no fim, como sempre acontece em histórias destas, tudo se esclarece, os maus são punidos e os bons recompensados e vivem felizes para sempre, e patati e patata.

Trata-se, como facilmente se percebe, de um conto cujo tema é a mentira, a credulidade, e os desastres que a junção de uma com a outra pode gerar. E nada há de mais atual do que isto, com a epidemia de mentiras e manipulações que assola o globo neste preciso momento, por intermédio (não exclusivo, longe disso) das redes sociais. Se ao menos vivêssemos num conto de fadas e tivéssemos a garantia de que os mentirosos, os ladrões e os manipuladores são derrotados no fim... mas não, o mundo real não é uma história de encantar, e há que manter os olhos bem abertos, usar a cabeça e não nos deixarmos enganar.

Esta história devia ser lida. Abundantemente lida.

Contos anteriores deste livro:

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