sábado, 3 de novembro de 2018

Lido: Compreendam, Imbecis

Compreendam, Imbecis, é mais um daqueles textos de Luiz Bras que se situam algures entre a ficção em prosa e a poesia, e também outro dos muitos textos deste livro que tem elementos de ficção científica, aqui razoavelmente rarefeitos.

O narrador é, assumidamente, um tipo desagradável, que se rebela contra as convenções e o ditado dos "imbecis" que tentam impor-lhe o que ele não quer aceitar. Sim, mais uma vez a misantropia é evidente nas personagens de Bras, aqui em plena rebelião sentimental. É que o protagonista não quer aceitar ser obrigado a amar quem (ou o que) não ama, humano ou androide, quer ser livre para amar quem (ou o que) realmente ama. Podemos censurá-lo? Alguns julgarão que podem, mas não, não podem.

Não sendo na minha opinião dos melhores contos (poemas?) de Bras, não deixa apesar disso de ser bom, até porque mais uma vez consegue alcançar múltiplos níveis de leitura com uma contenção verbal notável. Sim, porque a defesa da liberdade de se ser e se amar quem se é e ama não é a única leitura possível do texto, sendo também possível olhá-lo como um desabafo tecnofóbico, ou como um comentário à condição do escritor obsessivo, aquele que tem de escrever para ter alguma hipótese de ser feliz. E isso é algo que não está ao alcance de todos.

Textos anteriores deste livro:

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