domingo, 11 de novembro de 2018

Lido: No Moinho

Uma das coisas que eu mais aprecio na ficção do Eça de Queirós é a forma irónica como ele olha para as coisas e as pessoas, uma corrosiva ironia muito sua, tão, mas tão diferente da forma como a legião de imitadores que veio atrás tentou sem sucesso emulá-la. Essa ironia está bem patente na maior parte dos textos queirosianos que eu conheço... mas não em todos.

Neste No Moinho, por exemplo, ela não se pode dizer que seja inexistente mas é certamente escassa. Trata-se sobretudo de um retrato, mais uma vez. O retrato de uma mulher de província, prisioneira de um casamento sem amor, sem alegria e com doenças, mas contente com a, ou pelo menos resignada à, sua situação. Até ao dia em que um primo do marido, escritor célebre radicado em Lisboa, chega à aldeia em negócios e vem abalar o seu mundinho até às fundações.

Muitíssimo bem escrito, como é praticamente inevitável em Eça, este conto é sobretudo uma história romântica, com a ênfase nos sentimentos que é característica dessas histórias. Mas é uma história romântica à Eça: sem sentimentalismos nem exageros. O que para mim é ótimo, dada a alergia que tenho às histórias românticas com exageros sentimentais. Achei este conto bom, portanto, apesar de não me ter enchido as medidas.

Contos anteriores deste livro:

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