sábado, 17 de novembro de 2018

Lido: O Congresso

Quem conhece a ficção de Jorge Luis Borges decerto saberá que duas das suas facetas mais importantes são, por um lado, a aplicação de ideias matemáticas à escrita ficcional (sobretudo a noção de infinito) e, pelo outro, a criação de factoides fictícios com ar de veracidade, de mistificações. E este O Congresso tem ambas.

Fala, naturalmente, de um congresso. Não um congresso real, mas sim um congresso projetado, o Congresso do Mundo, cujo objetivo seria, à revelia dos governos, reunir representantes de todas as facetas da humanidade para em conjunto tomar decisões sobre o seu futuro. É daquelas ideias utópicas que tem tudo para ter realmente passado pela cabeça de alguém na época em que a história se ambienta, inícios do século XX, e é nessa verosimilhança que Borges se apoia para sustentar a história. Esta, em forma de testemunho escrito por um dos organizadores, conta os sucessos e insucessos da ideia e as voltas que ela foi dando ao longo dos anos até dar em coisa nenhuma.

É um conto bastante interessante, através do qual Borges parece querer expressar o seu ceticismo perante ideias utópicas e impraticáveis, apesar de todas as boas vontades (e também porque raramente todas as pessoas envolvidas têm mesmo essa boa vontade). Não sendo dos contos dele que mais me agradaram e/ou impressionaram, a narrativa tem toda a qualidade e segurança que se pode esperar de um autor como Borges.

Contos anteriores deste livro:

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