Mais uma história sem nenhum elemento fantástico, este As Filhas dos Dois Validos, recolhido por Adolfo Coelho junto de alguém oriundo de Almeida, é um conto exemplar a apelar à virtude das donzelas e à modéstia. Para isso serve-se do contraste entre as atitudes de dois favoritos de um rei no que toca às filhas: um que nunca delas fala, o outro que não para de as gabar. Inevitavelmente, as virtudes das filhas do favorito que muito as gaba são inexistentes, ao passo que a filha do homem que a cala é recatada e piedosa.
Pelo que acima ficou escrito fácil se torna perceber que este é um conto profundamente conservador, o que de resto é característica comum nas histórias tradicionais, feitas para uma sociedade e um tempo que já não são os nossos. É em parte por isso que talvez seja bom ter alguma prudência quando deparamos com uma certa tendência para os analisar sob o prisma dos arquétipos universais. Convém não perder de vista que os contos tradicionais portugueses, e europeus em geral, estão amarrados aos valores da sociedade patriarcal rural. Seja como for, esta é uma história bem feita, o que nem sempre acontece, embora não haja nela grande rasgo imaginativo, o que é pena.
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