Quem julgue que o anti-intelectualismo é tendência recente, das sociedades pós-modernas, não tem mais que pegar neste conto, recolhido por Adolfo Coelho em Lisboa junto de alguém oriundo da Beira Baixa, para perder tais ideias.
Como é comum acontecer neste tipo de conto, o título não tem mistério nenhum. Os Três Estudantes e o Soldado são, precisamente, três estudantes e um soldado, e a história resume-se a ver qual, entre eles, fica com um lobo que encontram morto no caminho. Como? Versejando, pois então.
E já estão a ver, não estão? Os estudantes são ao mesmo tempo cobiçosos e idiotas, e quem se vai revelar espertalhão e levar a palma aos demais é o soldado.
Há um ressentimento secular, nutrido por aqueles que não têm instrução contra os que a têm e esta história é disso prova. O que achei mais curioso nela é ela ter posto um pouco em causa uma ideia feita que eu tinha (e na verdade continuo a ter), de que esse ressentimento é em parte alimentado pela arrogância com que os instruídos tratam os que não o são. Os estudantes, que poderiam tê-la exibido, não a exibem. São apenas retratados como jovens que tentam passar a perna a outro jovem, o qual acaba por lhes passar a perna a eles.
Não é grande coisa, este conto, que além do mais não inclui nenhum elemento fantástico. Mas fez-me pensar.
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