sexta-feira, 4 de janeiro de 2019

Lido: Yazik (#leiturtugas)

Ao longo dos anos fui acumulando uma enorme quantidade de ebooks que, como sempre detestei ler no écran do computador, ficaram quase sempre guardados sem ser lidos. Foi só quando comprei o primeiro tablet que comecei finalmente a lê-los, e entretanto já tinha acumulado tantos livros virtuais (para terem uma ideia: uso o Calibre para os organizar, e as minhas bibliotecas do Calibre contém mais de mil; livros que ainda nem tive tempo para organizar são significativamente mais que isso) que nem me lembro já de como, quando ou porquê muitos deles vieram parar ao meu disco rígido. É o caso deste Yazik, de Emanuel R. Marques.

Publicado em 2012, ajuizando pelos vestígios virtuais que deixou na internet, por uma tal "Editora Online Corujito" que parece não ter passado de uma iniciativa individual de alguém no Brasil, que criou um blogue no blogspot e publicou algumas coisas em PDF em 2011 e 2012, fechando o blogue em seguida e aparentemente transferindo-se para o Facebook, este livro é um conto de horror onírico com levíssimas pitadas de ficção científica a apimentar-lhe o final. O autor, porém, é português.

E cuidado que vêm aí spoilers.

Tudo gira em volta de um homem que é atormentado por uma criatura que designa como duende e lhe invade os sonhos dedicando-lhe versos enigmáticos. E quem diz sonhos diz pesadelos. A vida do protagonista, que já não estava a correr lá muito bem antes de lhe começar a aparecer o duende, cai depois na espiral de destruição que é praticamente inevitável em histórias deste género e que nos é contada com abundância de pormenores. E de adjetivos. Só no final, quando somos de súbito lançados para um futuro distante em que a humanidade já se extinguiu e quem domina o planeta é a espécie do duende, invertendo-se os papéis, o conto ganha realmente algum interesse.

E esse é o principal problema que aqui encontrei. A sucessão de excertos oníricos, intercalada por cenas de degenerescência no ambiente pessoal e social do protagonista, depressa se torna cansativa por obedecer sempre à mesma estrutura e conter muito pouca novidade de capítulo em capítulo. A piorar as coisas, há um português que não me pareceu particularmente estimulante, muito pelo contrário, em boa medida devido à superabundância de adjetivos (é um estilo de que os escritores de horror às vezes gostam. Eu detesto. É das coisas que mais me afastam de Lovecraft, por exemplo). Tudo somado já estava a preparar-me para encerrar a leitura com um rotundo "não gostei" quando aquele final surpreendente e eficaz fez a minha opinião sobre o conto melhorar repentinamente.

Mas não chegou para passar ao "gosto". O conto não me pareceu mau, é certo, mas tampouco me pareceu mais que medíocre, um esforço honesto de um escritor com alguma criatividade mas que há sete anos ainda tinha muito a aprender e fazia escolhas estilísticas que me repelem enquanto leitor. Esta foi uma leitura fraca.

Este livro esteve disponível na internet para descarga gratuita mas parece já não o estar em lado nenhum.

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