Este conto (ou não; já vos conto) pôs-me a folhear o que faltava do livro para ver se a partir de agora ia ser sempre assim. É que pela segunda vez consecutiva, depois d'O Casamento da Senhora Raposa, não estamos perante um conto, mas mais que um. E não, aqui não são dois: são três.
E, ao contrário do que aconteceu com a Senhora Raposa, estes contos sobre elfos são todos bastante diferentes uns dos outros, apesar de terem algumas características em comum, relacionadas quase sempre com a natureza das criaturas.
O primeiro e aquele que é, de longe, o mais extenso e complexo, conta a história de um sapateiro que uma bela noite decide que está demasiado cansado para acabar o par de sapatos que tinha em mãos, e vai descansar, deixando os sapatos apenas cortados na bancada de trabalho. Na manhã seguinte descobre com surpresa que estão terminados e perfeitos. E a coisa repete-se vezes sucessivas, até que ele, já rico de tanto e tão bom trabalho feito por algum misterioso sapateiro noturno, resolve investigar, descobre os elfos e deixa-lhes uma recompensa. Que os elfos aceitam. Só que nunca mais regressam.
O segundo é um conto de uma página sobre uma rapariga boa e trabalhadora que é convidada para ser madrinha de um bebé elfo, aceita e lá vai para as montanhas, onde passa uns dias de festa, regressando depois a casa. Mas quando regressa descobre que não se tinham passado apenas dias cá fora. Já tinha lido vários contos de fantasia com este tipo de desfasamento entre o tempo dos elfos e o tempo humano. Até traduzi um romance que contém este elemento.
O terceiro é um continho muito curto, de menos de meia página, sobre a lenda das crianças roubadas por elfos e substituídas por outras. A mesma tradução que incluía a base do conto anterior (A Criança Roubada, precisamente, de Keith Donohue) baseia-se nesta lenda.
O conjunto é simultaneamente muito interessante e de molde a deixar quem lê algo perplexo, pois os três contos têm pouquíssimos pontos de contacto, pelo que não é muito fácil entender por que motivo foram reunidos desta forma. Ou por outra, fácil é, pois todos revelam diferentes facetas das lendas sobre elfos, mas é algo discutível e, sabendo-se que os Grimm eram useiros e vezeiros em fundir e reescrever os contos que recolhiam, faz-se inevitável a pergunta (sem resposta) sobre o motivo por que não fizeram o mesmo com estas histórias. E desta vez nem a nota que se segue a eles (como a quase todos os outros) o explica.
Contos anteriores deste livro:
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