terça-feira, 15 de janeiro de 2019

Lido: Crepúsculo Matutino

Não vou voltar a desenvolver aqui as ideias que já desenvolvi sobre a natureza e os vários tipos dos romances-colagem, mas parece-me aconselhável que antes de lerem o que segue vão ler o que está no link acima, caso ainda não o tenham feito. É que a natureza do livro é importante para pensarmos no que Gerson Lodi-Ribeiro quis fazer com este Crepúsculo Matutino.

Ou muito me engano, ou não se trata de história que tenha sido publicada independentemente, embora partes dela tenham ficado sugeridas em outras histórias que o foram. Trata-se de um texto longo; se fosse autónomo, seria certamente uma novela. E relata o que aconteceu à espécie do vampiro de Palmares antes de ele se tornar vampiro de Palmares; a vida dos vampiros no litoral pacífico da América do Sul, a chegada dos incas à zona e a forma como os vampiros se aproveitaram da expansão do império Inca, expandindo-se e dispersando-se com ele, a arrogância e o descuido com que encararam a predação, especialmente em plena Cuzco, e a catástrofe que daí adveio. O título refere-se, creio, ao crepúsculo da espécie do vampiro de Palmares na manhã da existência da personagem.

A história é interessante, como de resto é comum acontecer nestas histórias de Palmares e do seu "filho da noite". O problema é que dava um romance. Imagino que o Gerson tenha achado que precisava desta história para contar realmente por completo a história do vampiro palmarino e se tenha visto confrontado com uma escolha entre dividir este livro em dois ou resumir o início de vida do seu protagonista e as condições que lhe deram origem, acabando por escolher esta última opção. Mas essa escolha tem consequências, e a principal é criar um texto muito descritivo e razoavelmente seco, que se lê quase como um manual de história, a história da espécie do vampiro. Embora este esteja presente nessa história, os verdadeiros motores dos acontecimentos são outros porque ele ora era muito novo ora ainda nem tinha nascido. Por isso, existe quase sempre como uma mera ideia de fundo, raramente aparecendo mesmo como personagem... e não há nenhuma personagem que tome realmente o seu lugar de protagonista. O protagonista, aqui, é a própria espécie.

Como já disse, eu conheço várias das histórias que o autor usou para construir este romance-colagem, e nenhuma tem este aspeto descritivo. Ainda não sei de que forma elas terão sido alteradas para se ajustar ao formato de romance, se o foram de todo, pelo que não tenho ainda a certeza de que o tom deste Crepúsculo Matutino termine aqui. Mas parece-me provável que assim seja. Pelo menos eu espero que sim. Porque esta história inicial é a pior de todas as histórias do Vampiro de Palmares que li até hoje.

Contos anteriores deste livro:

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