sábado, 19 de janeiro de 2019

Lido: Frei Genebro

Embora o grosso da produção mais conhecida de Eça de Queirós seja de cariz realista, parte dos seus contos e romances contém elementos fantásticos mais ou menos fortes, servindo-se geralmente para isso da mitologia cristã. É o caso deste Frei Genebro, a história de um frade italiano que, após uma vida inteira a fazer aquilo que julga ser boas obras, morre e vai ser julgado pelas potestades celestiais, como qualquer outra alma.

E vai convencido de que tem entrada garantida no céu. Mas apanha uma desilusão. O moral da história é claro e está resumido numa velha frase feita: de boas intenções está o inferno cheio. Coisa que o protagonista acaba por aprender à sua custa, não indo parar propriamente ao inferno mas caindo naquele limbo purgatórico que a mitologia cristã estabelece para os que não são (ainda) dignos do céu.

À semelhança da maioria dos contos anteriores, também neste há muito de estudo de personagem, mas há mais do que isso. Há a apresentação de um dilema moral e uma opinião sobre esse dilema: será legítimo cometer crimes para salvar vidas ou pelo menos atenuar sofrimentos? A opinião que Eça aqui expressa é claramente não, embora não fique claro se se trata da opinião dele ou da que julga ser a opinião teologicamente correta.

É escusado dizer que está muito bem escrito; o que é normal não é notícia. Notícia seria algum texto do Eça não estar muito bem escrito. Bem escrito, bem construído, com conteúdo e interessante, este é um bom conto.

Contos anteriores deste livro:

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