E de repente, um texto só com umbigo.
Anabela Afonso é outra autora que não escreve mal mas, ajuizando por este exemplo, tem da literatura aquela ideia, tão comum em certos setores literários, de que o que interessa realmente é o malabarismo de palavras, talvez com um pouco de desabafo íntimo à mistura, e isso de contar histórias é para quem não faz realmente literatura. É pelo menos a minha interpretação para o motivo por que, numa iniciativa de ficção fantástica, resolve apresentar um texto destes, que inclui apenas o mínimo indispensável de referências a coisas mais ou menos transcendentais para que se possa integrá-lo, com boa vontade (com muita boa vontade), no género.
Sim, Último Outubro (bibliografia) não é bem uma história. É uma salada de palavras, é certo que geralmente bonitas mas completamente sobrecarregadas pelo peso de tanto íntimo autoral. Este texto tem mais de umbigo que o pouco que conheço de Pedro Paixão. Imagino que a Anabela Afonso goste muito de Pedro Paixão; de resto, não estará sozinha, que há mais quem goste. Eu é que detesto. Detesto esta abordagem à literatura, esta banalíssima (e, neste caso, ainda por cima sentenciosa) tentativa de extrair de experiências e ruminações pessoais qualquer coisa que se assemelhe à experiência humana aborrece-me de morte. Ao menos que as acompanhe com uma história, personagens, um bocadinho que seja de Outro a diluir tanto Eu.
É que os umbigos são basicamente todos iguais e frequentemente malcheirosos. E cá fora há um Universo inteiro.
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