terça-feira, 11 de fevereiro de 2020

António Orta: Feridas de Ódio e Amor

E aqui temos mais uma fantasia científica, a pender fortemente para o lado da fantasia, como de resto é comum acontecer. Inspirado pelo Frankenstein (sim, é daí que vem a parte de FC) e pelos contos de fadas, António Orta funde os dois mundos num conto de vingança e violência bastante mal escrito, especialmente, mas não só, devido ao péssimo uso das vírgulas. Feridas de Ódio e Amor (bibliografia) são a justificação para a violência, mas qualquer pessoa que conheça o livro de Mary Shelley percebe que este monstro sanguinário de Orta não é a criatura criada pelo Dr. Frankenstein, cujas únicas aspirações são ser amada, não fazer mal a ninguém e não sofrer mal de ninguém.

Essa é uma das coisas que me desagradaram neste conto; e sim, bem sei que esta não é a primeira história a subverter a natureza da criatura de Shelley, mas o facto é que gostaria que menos o fizessem. Uma das grandes qualidades do romance de Shelley reside na sua denúncia da xenofobia, porque é o medo do outro e a violência que este gera que leva o monstro a ser violento em autodefesa, e histórias como esta só a reforçam. E esse desagrado existiria mesmo se o conto fosse bom.

Mas não é. Não só a prosa é má, como a história, de uma fada com sede de vingança que aprende a criar o seu próprio monstro segundo a receita do Dr. Frankenstein e depois usa a natureza sanguinária do monstro que cria para se vingar das outras fadas, está um bom bocado mal amanhada. E o resultado é que este é dos contos mais fraquinhos de todo o livro.

Textos anteriores deste livro:

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