A ficção científica dura, em modo mais ou menos asimoviano, não é um subgénero com grande tradição em Portugal. São raros os autores que a tentam e mais raros ainda, praticamente inexistentes, os que têm alguma espécie de sucesso na tentativa. António Bettencourt Viana tentou, como comprova este Saudações de Tau Ceti (bibliografia) e como as intenções expressas no prefácio fazem prever que comprovem os restantes contos deste volume. Mas terá tido sucesso?
Bem, neste primeiro conto a resposta é mais ou menos. Saudações de Tau Ceti é daqueles contos de FC de laboratório, ainda que não se restrinja ao laboratório: uma antena de rádio capta um sinal oriundo de Tau Ceti e o conto descreve, com abundância de detalhes técnicos que na maior parte dos casos não contribuem para a narrativa mas se inserem na filosofia literária do autor, a forma como o sinal é confirmado e algumas das consequências imediatas que ele tem.
Toda a abordagem do autor é pedagógica. Ele pretende usar a FC para ensinar qualquer coisa. Daí os detalhes técnicos, as informações sobre radioastronomia ou dinâmica orbital que são espalhadas por este conto. É uma abordagem que tem alguns antecedentes, incluindo o próprio Asimov, mas que me parece algo estéril quando se resume a isso. Isto é, quem vai ler uma história de FC só para obter informações que mais fácil e eficazmente encontra nalgum manual? É preciso mais qualquer coisa. Asimov compreendia isso, daí as suas obras estarem repletas de reflexões sobre os limites da humanidade e a nossa relação com o Outro. E Viana, compreende?
Ajuizando por este conto, até parece compreender: há aqui umas ferroadas geopolíticas, há um pouco de humor, etc. Mas não parece saber muito bem o que (e como) introduzir na história para a tornar mais apelativa para o leitor. A ver vamos se nas histórias seguintes o faz melhor. Para já, o que fica é uma história razoável, que podia ser bastante mais interessante com menos didatismo.
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