sábado, 15 de fevereiro de 2020

Corvo: Dois Mais Meio Igual a Um

Mais um autor brasileiro, este que assina apenas como Corvo. E até escreve bem, conseguindo com este Dois Mais Meio Igual a Um (bibliografia) criar uma história equilibrada, contando-a de uma forma adequada ao espaço disponível. Trata-se de uma versão algo onanista do tema do duplo, provavelmente inspirada por O Homem Duplicado do Saramago, e talvez também em parte pelo conto de Poe intitulado William Wilson.

E é precisamente aqui que reside a principal insuficiência desta história: é impossível lê-la sem nos lembrarmos dos textos acima mencionados. Isso não seria problemático se o Corvo tivesse conseguido introduzir na sua história algo que a tornasse única, mas embora existam alguns elementos que, se bem explorados, poderiam fazê-lo, eles não chegam a passar do esboços. Não existe aqui nada que se compare com a exploração da consciência presente na história de Poe ou a da individualidade presente em Saramago. O Corvo parece querer apenas explorar a ideia do duplo e ver onde ela o leva, mas isso resulta num conto insuficientemente coeso, algo onírico no sentido de as coisas irem acontecendo de uma forma um tanto ou quanto incoerente. E como resultado, o conto, não sendo mau, também não chega propriamente a ser bom.

Textos anteriores deste livro:

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