Há histórias de amores desencontrados no tempo muito eficazes, mas normalmente são-no tanto mais quanto mais subtil e psicologicamente credível é a situação, que na sua essência é altamente inverosímil. Precisamente pelo contraste e por uma questão de compensação: situações inverosímeis tendem a funcionar melhor quando outros elementos da construção narrativa são credíveis. Paulo Roderick, ajuizando pelo exemplo de Àquele Amor que Nunca o Foi (bibliografia), parece não saber disso, ou não querer saber disso.
Se soubesse, ou quisesse saber, talvez não tivesse escrito a sua história de amor desencontrado no tempo com este estilo hiperromântico, exageradíssimo, mais que lamechas, que até os escritores românticos do século XIX teriam pensado duas vezes antes de usar. Mas escreveu. E a consequência é que o português é essencialmente correto, a história de um amor entre jovens de décadas diferentes, unidos por missivas enviadas para trás e para a frente no tempo por uma pedra de um jardim, podia ser bastante interessante, mas este conto é penoso de se ler. E mais que um pouco ridículo, e não o ridículo bom das cartas de amor do Pessoa.
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