quinta-feira, 27 de fevereiro de 2020

Clive Barker: O Ladrão da Eternidade

O inglês Clive Barker é bem conhecido pelos leitores de horror internacionais sobretudo pelas suas cinco coletâneas de contos e novelas intituladas Books of Blood. Em Portugal, com a conhecida renitência dos editores em publicar coletâneas de contos (e dos leitores em lê-las, provavelmente), claro que esses cinco livros nunca viram a luz do dia, tendo sido o autor apresentado aos leitores portugueses pelo seu primeiro romance, The Damnation Game, publicado há muitos anos na coleção Pêndulo da Europa-América. Este O Ladrão da Eternidade (bibliografia) é apenas o segundo livro dele a sair entre nós. E não é propriamente um romance de horror. É um romance juvenil com algum horror à mistura. Uma fantasia sombria.

E sendo um romance juvenil, o protagonista é um miúdo. Um miúdo que vivia feliz com os pais (apesar de se aborrecer um pouco) até que um misterioso personagem de falinhas mansas o convence a ir passar uma temporada numa espécie de colónia de férias, algures na cidade. Com autorização dos pais, pelo menos na aparência. A colónia de férias rapidamente se revela um casarão, com certos ares de vitoriano, daqueles que tão comuns são nas histórias que envolvem alguma espécie de magia ou de criaturas sobrenaturais. Sim, sim, esta história não está livre de clichés.

Porque no casarão há bastante magia e criaturas sobrenaturais, como o miúdo vai descobrindo aos pontos, a princípio com o expectável deleite, mais tarde com crescente apreensão. Para começar, todos os dias parece passar um ano completo, com as estações todas e as respetivas festividades a suceder-se umas atrás das outras. E depois há as aventuras e brincadeiras, sempre cheias de magia... e ocasionalmente de aterrorizar.

Por trás de tudo aquilo, claro, há algo de sinistro. É o que o jovem protagonista acaba por descobrir aos poucos, juntamente com o leitor que também compreende assim o que Barker quer dizer quando intitulou o romance como O Ladrão da Eternidade (e neste caso o título português segue de perto o original). No final aparece a inevitável batalha do bem, protagonizado pelo rapaz, que se vem a descobrir especialmente talentoso para manusear as forças mágicas do mundo, e o mal, protagonizado pelo ladrão da eternidade e seus lacaios. E, claro está, o bem vence.

Há livros mais imaginativos? Sem dúvida. Mas este é um livro juvenil bastante bom, ainda que talvez não resulte numa grande experiência de leitura para leitores mais experientes, que dele deverão obter algumas horas de entretenimento e pouco mais. Para miúdos, ainda com poucas leituras no género, deverá haver aqui surpresas e emoção em quantidade mais que suficiente, e o livro está bem construído, com bom ritmo, com tudo nos lugares certos. Não sendo propriamente uma obra-prima, é um livro que cumpre bastante bem aquilo que se propõe fazer.

Este livro foi comprado.

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