Duvido que haja grande diferença entre a alienação pelo futebol que existe em Portugal e no Brasil, pelo menos entre a porção da população que se deixa alienar pelo "esférico rolando sobre a relva", na feliz expressão do José Estebes. Duvido que se diferenciem muito os rituais, a irracionalidade dos clubismos, a catarse de frustrações, o tribalismo, e podia ficar aqui um dia inteiro a elencar ismos e provavelmente não terminaria. Mas só o Brasil transformou o futebol (e o carnaval) em característica nacional de um povo inteiro, por mais que todos os que conhecem mais que dois ou três brasileiros tenham encontrado vários que pura e simplesmente não gostam de bola (ou de carnaval), o que desde logo prova a falsidade do estereótipo. É como o que os portugueses fizeram com o fado, a saudade, toda essa inerte melancolia, usada para caracterizar um povo que, na sua maioria, na maior parte das situações, pouco ou nada tem a ver com ela.
De modo que não será surpresa para ninguém que eu vos diga que J. A. Dall'Agnol, autor de uma história sobre uma doença chamada Transtorno Fóbico-Ansioso-Raivoso de Substituição em Partidas de Futebol (bibliografia), é brasileiro.
E que doença é essa? Dall'Agnol usa um expediente comum em muitas das outras ficções desta antologia, transformando em doença uma atitude comum: a irritação do jogador de futebol quando o treinador o substitui por outro. E fá-lo com graça, num texto longo (dos mais longos de todo o livro, parte traduzida incluída) cheio de exemplos nos quais a irritação é exagerada até ao absurdo, cada qual mais caricato que o outro, e metendo até candomblé ao barulho. É um bom conto, ainda que a sua extensão ameace por vezes torná-lo um tanto ou quanto cansativo... pelo menos para mim, que não tenho grande interesse pelo tema; é perfeitamente possível que a um leitor mais futeboleiro do que eu o conto chegue até a saber a pouco. Mas como aqui quem escreve sou eu e as opiniões são minhas...
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