terça-feira, 2 de fevereiro de 2021

David Soares: A Luz Miserável (#leiturtugas)

É curtinho, este livro do David Soares. Um livro de contos com apenas três histórias, ainda que todas elas sejam razoavelmente longas, somando um total de páginas que não chega às 130. E não há nada de mal nisso, bem pelo contrário; muito pior que ler livros curtos é ler livros longos cheios de palha.

Este tem muito pouca palha. Tem três histórias, boas, bem escritas por um David Soares que felizmente ainda não tinha chegado ao estado de obfuscação lexical que a dada altura resolveu adotar. Umas são melhores que outras, como sempre acontece, e, mais do que isso, umas ressoam mais que outras com cada leitor em concreto. A Luz Miserável (bibliografia) é título de uma delas, a segunda, por sinal a que mais me agradou. E o livro tem pormenores de edição que revelam o cuidado da editora com este seu antigo autor. Esta é a parte boa.

A parte menos boa tem a ver principalmente com a última história, significativamente menos satisfatória do que as duas primeiras, com a estruturação geral da coletânea (i.e., a ordem em que as histórias aparecem) e com as páginas pretas.

Da última história falo mais detalhadamente no post respetivo e sobre a estruturação geral da coletânea também, embora talvez fosse mais adequado falar disso aqui (em resumo: parece-me má ideia deixar a história mais fraca para o fim, porque é essa que vai deixar a última impressão do livro na cabeça da maioria dos leitores — os que leem compilações sequencialmente). Quanto às páginas pretas, aviso desde já que se trata de questão pessoal e inerentemente subjetiva: detesto ler seja o que for em fundo escuro.

Não sei ao certo porquê, mas suspeito que os meus magníficos olhos (é sarcasmo: os meus olhos são uma bela porcaria) têm algo a ver com isso. O que sei é que sempre me cansou muito mais ler coisas em fundo escuro do que em fundo claro. Sim, mesmo no écran do computador. Dizem que fundo escuro descansa a vista, porque são menos os fotões que vão impressionar a retina, não é? Pois comigo isso é treta. O fundo escuro obriga-me a fazer mais esforço, ao ponto de, por vezes, acabar por me causar dor de cabeça. E o mesmo se passa, ainda que em grau menos acentuado, com o material impresso. Detesto ler coisas em fundo escuro onde elas costumam aparecer mais frequentemente, nas revistas e, por maioria de razão, detesto ler coisas em fundo escuro em livro.

Portanto este livro foi para mim penoso de ler, por motivos que nada têm a ver com o seu conteúdo. Compreendo perfeitamente a opção de editora e autor, ainda que a ache desnecessária: as páginas pretas, num livro destes, destinam-se a acentuar o caráter sombrio das histórias. Mas a verdade é que elas, as histórias, não precisam disso (se precisassem, de resto, seria mau sinal). Admito a possibilidade de que para alguns leitores, ou até para a maioria, elas tenham servido para acentuar a experiência de leitura. Mas comigo aconteceu o contrário. As pessoas são diferentes; comigo este tipo de coisa não funciona como pretendido. Para mim, este livro vale menos que a soma das suas partes.

Eis o que achei de cada conto deste livro:
Este livro foi comprado.

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