quinta-feira, 18 de fevereiro de 2021

Vandermeer e Roberts (orgs.): Doenças Excêntricas e Desacreditadas (#leiturtugas)

Há já bastante mais que um ano que os visitantes regulares aqui da Lâmpada vêm vendo quase todas as semanas várias aparições desta capa que está aqui ao lado nos posts do blogue. A explicação para isso está na lista que encerra este: o raio do livro tem uma quantidade enorme de textos.

É que não bastava que o Almanaque do Dr. Thackery T. Lambshead de Doenças Excêntricas e Desacreditadas (bibliografia) original, aquele compilado pelos "doutores" Jeff Vandermeer e Mark Roberts, já fosse acalhamaçado à partida; esta edição ainda lhe acrescentou coisa de 100 páginas sob a forma do Compêndio Médico Calamar Trindade de Doenças Notáveis e Invulgares, compilado pelo "dr." João Seixas. Isto é: a mesma coisa só que de autores portugueses e brasileiros.

O resultado é aquela catrefada de links que podem encontrar ali em baixo.

E o que é isto, afinal?

Quem foi seguindo as múltiplas publicações que fui aqui fazendo sobre os textos já terá compreendido, mas aos outros que possam cair aqui de paraquedas, eu explico. Trata-se de um compêndio médico de doenças bizarras, todas elas falsas; um pseudofactual muito borgesiano à partida, que transpõe para o território da "medicina" charlataneira aquilo que Borges fazia com a literatura obscura ou as personagens infames da história. Isto apesar de nem todos os autores terem seguido uma abordagem estritamente borgesiana à ideia. O que de resto é natural e bom: não creio que a ideia fosse fazer pastiches de Borges mas sim adaptar o estilo de cada um a este tipo de literatura pseudofactual.

E é bastante bom. Não que todos os textos o sejam, naturalmente, pois seria altamente improvável que não aparecesse uma pedrinha ou outra no meio das ervilhas, mas em geral o nível é bastante elevado e há um punhado de autênticas pedras preciosas nestas páginas. E há de quase tudo, ainda que os elementos predominantes sejam o humor e a ironia e o fantástico nas suas várias vertentes. E sim, incluindo a ficção científica. Ela está presente em quantidades escassas, mas está.

Quanto à parte de língua portuguesa, não deslustra. Sim, não atinge — em média — a qualidade do material traduzido, sim, inclui uma proporção maior de textos mais fracos e tem um quinhão razoavelmente grande dos mais fracos de todos, mas também inclui alguns textos muito bons, dos melhores de todo o livro. É mais desequilibrada, mas está muito longe de ser má. E, de uma forma geral, os autores lusófonos presentes perceberam bem a ideia e entraram bem na brincadeira.

Este é um bom livro. Não é livro para toda a gente (à parte o próprio Lambshead não existem aqui personagens dignas desse nome, por exemplo), mas é um bom livro. Os apreciadores de Borges, em especial, devem gostar bastante dele.

Eis o que achei de cada um dos textos deste livro:
Este livro foi comprado.

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