O mais curto dos contos ou fragmentos da série de Josela, este Ternura (bibliografia) é apenas um miniconto com menos de uma página de extensão, no qual Mário-Henrique Leiria espreita mais um género: o horror.
Não sei muito bem como falar deste continho sem revelar demasiado. É que é uma daquelas histórias concebidas desde o início (e neste caso "desde o início" é mesmo literal, porque o próprio título contribui para isso) para amplificar o impacto do final. Dito de outra forma, é uma daquelas histórias em que o famigerado conceito de spoilers de facto faz sentido.
Tudo é normal, pelo menos quanto ao que de normalidade existe no mundo de Josela, até que esta chega um dia a casa atrasada, trazendo um carrinho de bebé com um bebé dentro. E já percebem a "ternura", julgam vocês, mas a verdade é que não percebem porque a partir desse momento o conto começa a tomar tons cada vez mais macabros. O certo é que a história está muito bem feita: consegue ser macabra e horrenda sem deixar de ser divertida e sem deixar de incluir a aguçada crítica social tão característica de Leiria. E tudo em coisa de meia página.
É pena Mário-Henrique Leiria ter escrito tão pouco, especialmente nos géneros que mais me dizem. Esta é uma ideia que não me larga sempre que o leio.
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