Quem saiba que Slan é o título de um livro de ficção científica de A. E. Van Vogt poderia especular de imediato, bastando-lhe a leitura do título desta história, que se trata de um daqueles contos escritos por fãs de FC para fãs de FC. E quem leia o primeiro parágrafo e saiba quem foi Hugo Gernsback depressa fica com a certeza disso ao deparar logo aí com um tal "Hugo Gernsbacher, editor e inventor luxemburguês". Gernsbacher, de resto, é o apelido original de Gernsback, editor e inventor luxemburguês (check), naturalizado americano, tão influente na história da FC que deu nome ao principal prémio do género.
E se ao fim de todos esses sinais evidentes ainda houvesse dúvidas, elas certamente se dissipariam com o conteúdo da doença. É que a Síndroma de Slan (bibliografia), afinal, nada mais é que a transformação em patologia do gosto pela ficção científica.
O que Luís Rodrigues aqui apresenta é em essência uma caricatura do fandom (conjunto de fãs, para os não iniciados na gíria da coisa) de FC. Uma caricatura carinhosa, talvez, mas caricatura. E fá-lo com abundância de referências, pois não há contos de fãs para fãs sem que estejam semeados de referências e piadas privadas, que só outros fãs entendem. No entanto, fá-lo habilmente; alguém de fora é bem capaz de perceber a caricatura, mesmo quando não capta todas as referências, e de se divertir com ela... talvez até mais do que alguém de dentro.
É esta a melhor qualidade deste conto: a habilidade com que o autor faz a caricatura por forma a que tanto aqueles que a compreendem plenamente como os que não a compreendem recebam dela qualquer coisa. Basta isso para lhe dar qualidade. Mas não é só isso, pois o conto está bem escrito, é divertido, e integra-se plenamente no espírito genérico da antologia. É um bom conto.
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