quinta-feira, 26 de dezembro de 2019

O meu pai tem novo livro

O meu pai era poeta.

Morreu em 2011, aos 75 anos, graças a quilos de cigarros e às consequências que eles tiveram. Deixou por cá a família, uma série de publicações (poemas, sim, mas também contos e crónicas) dispersas por jornais, revistas e uma ou outra antologia e dois livros de poemas. Fininhos, como era norma no seu tempo e em grande medida continua a ser ainda hoje.

Agora saiu o terceiro.

Não começou com um telefonema mas, pela parte que me toca, foi assim que começou. Que conheciam a poesia do meu pai e gostavam muito dela, que era uma pena que poucos a conhecessem hoje em dia porque já há décadas anda fora de mercado, se eu estaria de acordo que se publicasse um livro novo com os poemas dele, e por aí fora.

E eu, sem saber bem o que ele diria (tanto podia recusar como ficar contente e dizer que sim), e sem lhe poder perguntar, aceitei. E ao aceitar passei a ter um problema.

É que me queriam envolvido. Queriam-me a colaborar na escolha dos poemas, no delinear da edição, nessas coisas miúdas de que são feitos os livros. Só que eu, como quem costuma ler o que vou pondo aqui já está farto de saber, me tenho na conta de um gajo que pouco percebe de poesia. Escolher poemas? Que sei eu sobre poemas para poder escolhê-los? Especialmente inéditos e dispersos?

E depois apareceram outros problemas. Falta de tempo, emails perdidos, um arquivo paterno muito mal organizado, onde estão poemas dispersos publicados em vários sítios mas quase sempre sem qualquer indicação de onde e quando, e etc., e etc., e etc. Com tudo isso, o tempo foi-se arrastando e por fim acabou por ficar decidido que para a publicação avançar teria de ser reduzida a uma compilação dos dois livros publicados em vida.

E a um prefácio.

Escrito por mim.

Mas têm a certeza? Eu pouco percebo de poesia, e patati, e patata. Que sim, que sim, escreva lá isso.

E eu suspirei, escrevi, apaguei, voltei a escrever, voltei a apagar, reescrevi. Por fim, lá saiu qualquer coisa razoável. E por fim o livro saiu. Não sou daqui: eu vim num dorso de vaga, o título, é também um verso de um dos poemas (e não, não fui eu que o escolhi). Candeias Nunes, o autor, veio mais tarde a assinar também como António Candeias, mas coisas diferentes, possivelmente mais conhecidas por quem frequenta este blogue. Douda Correria, a editora, está presente na internet aqui, e a página relativa ao livro, onde se encontra um link para contactos e pedidos, é esta.

E assim, quase nove anos depois de nos ter deixado e uns sessenta depois de ter escrito estes versos, o meu velhote volta a poder ser lido por quem tiver curiosidade.

É a magia da palavra escrita.

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