terça-feira, 31 de dezembro de 2019

Fernando de Sousa Pereira: Na Terra Desaparecida

Existe em muita gente, e provavelmente também em muitos autores, a ideia de que literatura fantástica equivale a literatura infantil, ou no máximo juvenil, a formas imaturas de contar histórias a que pessoas sérias e adultas não devem dar qualquer importância. É um disparate, claro, pois a abordagem fantástica tanto serve para contar histórias a crianças como a analisar profundamente tendências e fenómenos do mundo adulto, mas o preconceito existe. Por isso, é com alguma surpresa que constato que são poucas as histórias decididamente infantis que se podem encontrar nesta antologia, ou pelo menos da sua primeira parte. Na Terra Desaparecida (bibliografia) é uma dessas histórias.

O conto pertence àquele subgénero da fantasia a que se dá o nome de maravilhoso. Fernando de Sousa Pereira tem piada a dar nomes às suas personagens e territórios e constrói uma história em que um grupo de criaturas se vê forçada a fazer de cupido porque a última fada da Terra Desaparecida (chamada Solstícia) se foi embora com medo de um monstro que acabou por não aparecer, deixando-a mergulhada na escuridão porque precisa de amor. E claro que conseguem, ou não fosse a história infantil, e o seu amante platónico, um gigante chamado Troféu que ainda por cima é poeta, deixa de ser platónico. E viveram felizes para sempre.

É um continho simpático e bem intencionado, este, e razoavelmente bem escrito. Muito melhor que outros contos deste livro, ainda que esteja nele algo deslocado. Não por não ser fantástico, que é, mas porque o seu público-alvo dificilmente pegará nele para o ler, pois a maioria dos outros contos não são para crianças.

Textos anteriores deste livro:

Sem comentários:

Enviar um comentário

Por motivos de spam persistente, todos os comentários neste blogue são moderados. Comentários legítimos passam, mas pode demorar algum tempo. Como sempre acontece, paga a maioria por uma minoria de abusadores. Parece ser assim que o mundo funciona, infelizmente.