domingo, 29 de dezembro de 2019

Rhys Hughes: Cronochoque do Século XX

Já se tinha percebido que diferentes autores tinham abordado a proposta desta antologia de formas muito diferentes, com a seriedade clínica de alguns a levá-la mais para o lado dos pseudofactuais borgesianos, e a ironia de outros (apesar de Borges não ser de todo alheio à ironia, sublinhe-se) a trazê-la mais claramente para o lado do humor, umas vezes a atirar para o surrealista, de outras vezes a pender mais para o horror ou até a ficção científica. Rhys Hughes é surrealismo praticamente puro.

Cronochoque do Século XX (bibliografia), a doença que ele apresenta, é uma alergia. Peculiar, como todas as doenças aqui apresentadas. É uma alergia a um ano do século XX, a um período do século XX ou ao século XX como um todo, apresentando sintomas típicos das alergias. Hughes, longe, muito longe do sisudismo pelo menos aparente de outros autores, serve-se de trocadilhos e jogos de palavras e de uma informalidade que pode parecer algo deslocada, mas que a edição portuguesa resolve particularmente bem, com uma "nota do dr. Calamar Trindade" (o equivalente português do Thackery T. Lambshead, como se verá adiante) a... bem, a desancá-lo.

Este não é dos textos mais impressionantes que se poderão encontrar aqui, mas é divertido, o que no fundo é precisamente o que pretende ser.

Textos anteriores deste livro:

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