sábado, 29 de agosto de 2020

Ron Webb: A Garôta com Olhos de 100º

Não começa bem, esta revistinha. OK, OK, foi publicada nos anos 70, há quase meio século. As coisas mudam e nos últimos 50 anos até mudaram bastante. Mas esta historinha de Ron Webb, decididamente, envelheceu mal.

Sabem aquelas fantasias de adolescente borbulhento que adorava perder a virgindade mas não arranja maneira das mulheres lhe ligarem peva? Pois é precisamente isso o que temos neste A Garôta com Olhos de 100º (bibliografia). Para tal, claro, a "garôta" não é propriamente uma garota. É uma génia, não da lâmpada mas da garrafa (sim, a referência à alucinação ébria parece ser inteiramente propositada), que o protagonista da história faz sair da dita-cuja. Ela, que ainda por cima parece que era bonita, oferece-lhe os três desejos da praxe, e claro que o protagonista pensa primeiro ou exclusivamente com a cabeça de baixo como facilmente se adivinha.

Consentimento é, naturalmente, um conceito que passa por completo ao lado desta ficção. Afinal, um génio (ou uma génia) da garrafa não é obrigado a satisfazer os desejos de quem o chama? O que há é truques, muitos truques, tanto por parte da génia, que tinha um namorado (outro génio, claro) e tentou levar o protagonista a soltá-la e ao namorado, como por parte do protagonista, que tem um derradeiro desejo demolidor que o leva a ficar com a rapariga... digo, com a génia.

Webb pretendia ter graça. Divertir, com uma variante moderna do conto do Aladino. Talvez tenha conseguido fazê-lo na sua época, especialmente junto dos adolescentes borbulhentos ansiosos por perder a virgindade mas incapazes de o fazer sem recorrer a prostitutas. Mas hoje? Não, hoje não. As coisas mudam, e ainda bem que mudam.

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