Duas páginas. É o espaço de que precisa Mário-Henrique Leiria para escrever uma das histórias de viagem no tempo mais sofisticadas que eu li na vida. Apenas duas páginas. É de se lhe tirar todos os chapéus que este livro tem na capa e mais outros tantos.
Tudo gira em volta de mais um alienígena plenamente alienígena, pertencente a uma espécie que tem a capacidade de "cuimar", i.e., de se deslocar no tempo por períodos limitados, tanto para o passado como para o futuro. Ora, esse alienígena apresenta na polícia a queixa de que tinha sido roubado no mês seguinte. Mas o problema dele não é esse. O problema dele é que a polícia deteve o futuro ladrão, o que impediu um roubo que qualquer viagem ao futuro indicaria que acontecera de facto. Paradoxo, claro. O qual só é resolúvel através do desaparecimento de toda a fortuna do assaltado, o que este, compreensivelmente, considera inaceitável.
É este nó que um inspetor da Polícia Judiciosa consegue desatar de uma forma, digamos, sui generis, e o caso de direito — o Caso 39 001 - 0 - 37 (bibliografia), naturalmente — consiste na análise das ramificações jurídicas da solução encontrada. O que é coisa assente é que este conto é uma maravilhazinha de ficção científica e de ironia. E relembro: tudo em duas páginas. Chapeau!
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