terça-feira, 4 de agosto de 2020

Em 2019 falou-se de... outras coisas

Eu avisei que a prioridade deste post era bastante baixa mas que ele acabaria por aparecer, não avisei? Avisei, claro que avisei. E portanto, olhem, cá está ele, para encerrar de vez esta fase e este tipo de trabalho derivado do defunto ficção científica literária.

Como aconteceu no post sobre as outras coisas de 2018, e depois de falar aqui sobre a ficção portuguesa de que se falou em 2019, e também da brasileira, e ainda da internacional, neste post reúne-se tudo o resto. Não vou seguir a mesma ordem do post sobre 2018; vou começar pelas outras categorias de ficção, por mais pequenas que sejam, e vou seguir mais ou menos a mesma ordem para as de não ficção e o mais que ainda possa haver. Os comentários que haja a fazer sobre cada categoria é que, tal como no ano passado, vêm logo após a respetiva lista.

Tudo esclarecido? Então vamos lá.

Ficção angolana:

Agualusa, José Eduardo
  1. A Vida no Céu
Santos, Onofre dos
  1. Lenguluka (2x)
No ano anterior suspeitava que íamos ficar limitados ao Agualusa durante muito tempo, mas eis que 2019 me desmente com o surgimento, no mercado português, de um romance de FC de Onofre dos Santos, duplicando de uma assentada o número de autores angolanos presentes nestas listas e também o número de títulos (e triplicando as opiniões). Pena é o ponto de partida ser tão baixo — um —, e portanto o ponto de chegada também o ficar muito. Os próximos anos dirão se se trata de epifenómeno ou de início de qualquer coisa. Alguém dará conta do resultado, imagino.

Ficção galega:

Asorey, Daniel
  1. As Mulleres da Fin do Mundo
Por vários motivos, não era comum aparecer ficção galega nas pesquisas que eu fazia para alimentar o Ficção Científica Literária, embora eu tenda a considerar o galego parte da lusofonia. Por exemplo: boa parte dos veículos que falam sobre ela são em espanhol, não em galego ou português, e o próprio termo galego para ficção científica diverge do português, pois eles usam normalmente o termo castelhano, ciencia ficción, e mesmo quando usam o português/galego fazem-no com outra ortografia: ficción científica. Até na grafia reintegracionista existe diferença: ficçom científica. Mas em 2019 aconteceu eu dar por esta distopia, precisamente porque a palavra "distopia" é igual em todas as línguas ibéricas ocidentais (mais acento, menos acento).

Ficção lusófona e internacional:

?? (org.)
  1. Steampunk Internacional
Branco, Marcello Simão (org.)
  1. Assembléia Estelar
Mendes, Roberto (ed.)
  1. Dagon, nº 3
Mexia, Pedro (ed.)
  1. Granta, nº 3 (2x)
Scotuzzi, Nathalia (ed.)
  1. Diário Macabro, nº 1
  2. Diário Macabro, nº 2
VanderMeer, Jeff; Roberts, Mark; Seixas, João (org.)
  1. Almanaque do Dr. Thackery T. Lambshead de Doenças Excêntricas e Desacreditadas
Esta categoria, apesar de continuar pouco significativa, cresceu bastante face a 2018, contando agora 6 editores ou equipas em vez dos 2 do ano anterior, e 7 títulos em vez dos também 2 do ano anterior. Esta escassez é curiosa, pois durante muito tempo quase não houve antologia, pelo menos entre as publicadas em Portugal, que não contivesse qualquer coisa de um ou vários escritores não lusófonos para lhe conferir algum estatuto e, imagina-se, valor comercial. De então para cá as coisas mudaram um pouco de figura e, embora esse fator continue a existir, a verdade é que a presença não lusófona nestas publicações não se faz apenas de nomes sonantes, surgindo nelas também muita gente que se estreia na edição em língua portuguesa. Em todo o caso, a escassez dos comentários a este tipo de livro ou revista também é reflexo (ou talvez seja sobretudo reflexo) da tradicional azia de um quinhão demasiado elevado dos leitores face a histórias curtas. E isto é que parece mesmo não haver meio de mudar.

Ficção luso-brasileira:

Lodi-Ribeiro, Gerson (org.)
  1. Dieselpunk
Santos, Octávio dos (org.)
  1. A República Nunca Existiu
Tal como no ano anterior, em 2019 também só se falou de duas antologias com componente luso-brasileira relevante mas, ao contrário do que aconteceu em 2018, desta vez houve mais equilíbrio pois uma foi publicada em Portugal, com preponderância de autores portugueses, e a outra no Brasil, com preponderância de autores brasileiros. Seja como for, continua a ser fraquinho, muito fraquinho. E em relação ao que disse no ano passado, que "o desenvolvimento de verdadeiro intercâmbio literário no espaço lusófono, para o qual a carolice não chega, só se dará quando houver intervenção política nesse sentido" e que "cada vez há mais escolhos no caminho dessa intervenção", faço minhas as palavras do Jorge do ano passado, pois o ano que decorreu só tornou tudo ainda mais complicado e sem quaisquer melhorias em perspetiva.

Não-ficção portuguesa:

Domingues, Álvaro
  1. Oh que Cousas Grandes e Raras Haverá
Oliveira, Arlindo
  1. Inteligência Artificial
Vieira, Joaquim
  1. José Saramago: Rota de Vida
Nesta categoria temos uma grande taxa de repetência face ao ano anterior, visto que dos três autores aqui presentes dois compunham a lista de 2018, e destes três títulos um também já tinha sido comentado nesse ano. Não é uma categoria abundante, e julgo que nunca será, uma vez que não existe, fora da academia, a tradição de publicar material de não ficção produzido em Portugal sobre ficção científica ou de alguma forma relacionado com ela, e dentro da academia esse material é também raro e é mais raramente ainda que sai para o exterior, o que de resto é um velho problema da academia em geral e não só em Portugal: a dificuldade em estabelecer pontes com o mundo não académico. O crescimento de um título e de um autor não me parece minimamente significativo: o valor de base é demasiado baixo para que seja possível tirar daí alguma espécie de leitura.

Não-ficção brasileira:

Branco, Marcello Simão; Rosatti, Renato (eds.)
  1. Megalon, nº 1
Castro, Eduardo Andrade Barbosa de
  1. Traduzindo Ficção Científica: Samuel Delany
Meirelles, Fernando
  1. Diário de Blindness
Rüsche, Ana
  1. Utopia, feminismo e resignação em The Left Hand of Darkness e The Handmaid’s Tale
Savi, Melina Pereira
  1. Ursula K. Le Guin: Otherworldly literature for nonhuman times
Souza, Kátia Regina
  1. A fantástica jornada do escritor no Brasil (2x)
Suppia, Alfredo
  1. Atmosfera Rarefeita
Tavares, Braulio
  1. A Idade da Ignorância
Valentim, Marco Antonio
  1. Ursa menor: notas sobre ficção científica e fantasia
Vugman, Fernando
  1. A Invenção do Monstro (2x)
Esta foi uma categoria que cresceu muito relativamente a 2018, em grande medida graças a um site brasileiro que publicou um número bastante razoável de opiniões sobre obras de não ficção, a grande maioria de autores não lusófonos mas algumas também de autores brasileiros. Parte dessas opiniões foram também republicadas num outro site. E houve também opiniões vindas de outros sítios, nomeadamente aqui da Lâmpada. Tudo somado, os dois títulos, autores e comentários de 2018 passaram em 2019 a 10 títulos e autores (ou equipas) e 12 comentários, subidas muito significativas.

Não-ficção internacional:

anónimo
  1. A Arte do Cinema: Star Wars
Barbour, D.
  1. Wholeness and Balance in the Hainish Novels of Ursula K. Le Guin
Bradbury, Ray
  1. O Zen e a Arte da Escrita (2x)
Carrère, Emmanuel
  1. Eu Estou Vivo e Vocês Estão Mortos
Gordon, Charlotte
  1. Romantic Outlaws
Harari, Yuval Noah
  1. 21 Lições para o Século 21 / 21 Lições Para o Século XXI (5x)
  2. Homo Deus
Huntington, J.
  1. The Unity of “Childhood’s End”
Kaku, Michio
  1. O Futuro da Humanidade
Kelly, Kevin
  1. The Inevitable
King, Stephen
  1. Sobre a Escrita (2x)
Lincoln, Don
  1. Universo Alien
Manguel, Alberto
  1. Monstros Fabulosos (2x)
Masi, Domenico de
  1. O Mundo Ainda é Jovem
Parrinder, Patrick
  1. Imagining the Future: Zamyatin and Wells
Ricks, Thomas E.
  1. Churchill & Orwell - A Luta Pela Liberdade
Robb, Brian J.
  1. A Identidade Secreta dos Super-Heróis
Rottensteiner, Franz
  1. The Science Fiction Book: An Illustrated History by Franz Rottensteiner
Samuelson, David N.
  1. Childhood’s End: A Median Stage of Adolescence?
Serrano, Javier
  1. Un Mundo Robot
Vogel, Joseph
  1. Stranger Fans (2x)
Wallace-Wells, David
  1. The Uninhabitable Earth / A Terra Inabitável (3x)
Walsh, Toby
  1. 2062: The World that AI Made
Williams, Raymond
  1. Utopia and Science Fiction
Esta, que já no ano anterior tinha sido a categoria mais abundante entre este grupo de pequenas categorias, voltou a sê-lo em 2019, e com números muito semelhantes. Os 22 autores mais um organizador desconhecido de 2018 são agora 22 autores mais um autor ou autores desconhecidos, os 25 títulos são agora 24. E até os destaques são semelhantes. Ou pelo menos um deles é: Yuval Noah Harari, que volta a ser o principal com 6 opiniões divididas entre dois títulos. O outro destaque do ano é David Wallace-Wells, autor de uma obra sobre as consequências das alterações climáticas que foi alvo de três comentários. Weldon e Adams, pelo contrário, desapareceram em 2019.

Poesia portuguesa:

Canibal, Adolfo Luxúria
  1. No Rasto dos Duendes Eléctricos
Esta é uma categoria raríssima, inexistente no ano anterior (houve uma categoria de poesia, mas brasileira), cujo aparecimento nestas listas é sempre uma surpresa. Aconteceu em 2019 e, se isto continuasse a ser feito, provavelmente não voltaria a acontecer durante muitos anos.

Ficção internacional fora do género (mas relacionada com ele):

Wirkus, Tim
  1. The Infinite Future
No ano passado houve um autor, um título e uma opinião nesta categoria, este ano volta a haver um autor, um título e uma opinião. À partida, eu julgaria que seria mais raro encontrar material deste do que parece ser, embora dois exemplares em dois sejam absolutamente insuficientes para chegar a alguma espécie de conclusão. Mas fica a nota da persistência da categoria como uma curiosidade.

E assim chegámos ao fim desta iniciativa. Deu uma trabalheira medonha e uns posts que espero terem interessado a alguns leitores e acaba aqui devido à estupidez e incompetência da Google, como podem ler no último post do blogue que usei para alimentar estas listas.

Parabéns, Google.

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