O que esta história tem de mais curioso é deixar no ar a hipótese de o diagnóstico da Sinestesia Figurativa (bibliografia) como doença neurológica, uma variante da sinestesia verdadeira que existe no mundo real, ser um diagnóstico errado e o fenómeno a que se refere ser bastante mais exótico do que isso. Jeffrey Ford consegue assim arranjar uma bem-vinda variação relativa à filosofia da grande maioria destas histórias, nas quais são as próprias doenças que tentem a esticar a corda da verosimilhança por serem quase sempre extraordinárias. Esta, pelo contrário, é uma explicação relativamente mundana para um fenómeno que pode ser bastante mais extraordinário.
E que fenómeno é esse?
Bom, o caso é como segue: alguém, um tal Bernard Quigley, descobre que depois de ingerir alcaçuz consegue ver um duplo seu. Um duplo com a sua própria vida e as suas próprias circunstâncias, como se fosse ele mesmo só que num universo ou pelo menos numa linha temporal diferente. Ao médico que o observa nem passa tal possibilidade pela cabeça, claro, e reduz tudo a uma visão sinestética associada ao sabor do alcaçuz. No entanto, quem lê dificilmente não pensa nessa possibilidade. Pelo menos se for leitor habitual de FC e fantasia.
E sim, de certeza que é propositado, pois Ford (como os demais autores presentes no livro, de resto) é autor experiente no género. E é por isso que esta história é muitíssimo interessante.
Textos anteriores deste livro:
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