E de repente, numa altura em que a sucessão de histórias ou doenças razoavelmente semelhantes umas às outras ameaçava alguma monotonia, eis que aparece uma historinha que tem um piadão. E é por vários motivos que este Snarcoma Móvel (bibliografia) de Stepan Chapman se destaca do "pelotão".
Começa logo pelo título. É que "snarcoma" é um jogo de palavras que não funciona em português (não batam no tradutor — isto é intraduzível). Não existe nenhuma doença chamada snarcoma; o que existe são os sarcomas, i.e., certos tipos de cancro. E é realmente de um tipo de cancro que Chapman aqui fala, mas de um tipo de cancro muito especial. Basta perceber-se que o jogo de palavras se faz com a palavra "snark", que significa assim algo como humor sarcástico.
Pois a verdadeira natureza deste "snarcoma" só se desvenda numa secção que agora de repente não creio existir em mais nenhuma das descrições de doenças que este livro contém: uma secção que descreve o procedimento cirúrgico aconselhado para extração do tumor. Isto, apesar do nome da doença dar uma indicação bastante concreta sobre essa natureza, claro. É que o tumor é móvel. E não se trata de uma mobilidade pachorrenta, convulsões, coisas do género. É uma mobilidade de rato. Como animalzinho acossado, esconde-se e foge se não o apanham desprevenido, esquiva-se aos instrumentos cirúrgicos, criando todas as espécies de problemas. E tudo está descrito com verdadeira graça: esta foi uma das poucas histórias deste livro que me causaram mesmo uma gargalhada.
Muito bom, senhor Chapman. Muito bom mesmo.
Textos anteriores deste livro:
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