segunda-feira, 25 de janeiro de 2021

Mário-Henrique Leiria: sem título

Mário-Henrique Leiria decidiu deixar sem título este conto (ou fragmento) da vida extraordinária de Josela, mas facilmente podia ter-lhe chamado O Amigo Inconveniente ou A Cabeça da Madame, algo assim. Para efeitos de Bibliowiki chamei-lhe simplesmente "2º fragmento", há já bastante tempo, mas se calhar acabarei por fazer o que realmente é mais adequado e juntá-lo à longa lista de textos sem título que o site contém. Mas divago.

Sobre o primeiro conto da Josela disse que era mais surrealismo que FC, ainda que tivesse FC lá dentro. Aqui há bastante mais FC; a suficiente para quase se poder categorizar esta história como FC surrealista. Tudo começa quando, na véspera da família de Josela se meter no foguetão para umas bem merecidas férias, decide convidar uns amigos para jantar. A ideia parece boa. O problema é quem a Josela convida.

Os convivas são quatro. Uma tal Madame, o casal Grink O'Tork, cujo nome tem um ar meio irlandês mas que também podem perfeitamente ser ETs, e o Zeca Bubastis. Ora, o Zeca Bubastis é um bom amigo mas também é maluco, imprevisível. E, sem que se perceba porquê, trata de decapitar a Madame.

O resto do conto é, basicamente, a história de como aquela maçada é abafada, graças aos contactos da família e à cobrança de favores, claro. Sim, que Leiria escrevia sobretudo sobre o salazarismo e o marcelismo, a sociedade em que vivia e, embora estes contos só tenham sido publicados em 1975, tudo indica que foram escritos antes do 25 de Abril, época de todas as corrupções quase sempre bem abafadas pelos lápis azuis da censura. Tudo bem regado a humor, evidentemente tão negro como os tempos. E tudo muito bom.

Textos anteriores deste livro:

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