É bastante bom este conto de Pedro Cipriano, uma história muito breve de ficção científica pós-apocalíptica. A premissa é simples mas está bem desenvolvida e, embora pudesse sê-lo num texto mais extenso, neste tamanho curto também funciona (na verdade, para um desenvolvimento maior o estilo usado teria de ser diferente, pois o ritmo sincopado que Cipriano aqui usa é de molde a tornar-se cansativo bastante depressa... o que não é problema aqui porque não há tempo para isso).
De que premissa falo?
Bem, se soubesses que és um homem condenado num mundo condenado e tivesses os meios para fazer o que quisesses, o que farias? O que farias contigo e com os teus, tão condenados como tu? E falar aqui de condenados não é figura de estilo. A morte é certa e está próxima, só o seu momento preciso e a quantidade de sofrimento que haverá que aguentar até lá são ainda incógnitas. O que farias?
A resposta que Cipriano dá neste Os Cadáveres é bastante dura, mas inteiramente adequada ao que se entrevê da psicologia do seu protagonista. E o estilo usado, sincopado, nervoso, desesperado, também ajuda. Este é dos tais contos em que tudo encaixa bem. Não é particularmente original, é certo, mas funciona. E mesmo o final é deixado suficientemente em aberto para não colidir com a narrativa em primeira pessoa, um risco que Cipriano correu mas conseguiu evitar in extremis. Sim. É bom, o conto.
Este livro, como todos os livros publicados pela Fantasy & Co., está disponível gratuitamente aqui.
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