segunda-feira, 25 de novembro de 2019

Charles W. Runyon: Em Tempos Havia os Bois...

Ora aqui está uma noveleta curiosa. Escrevendo uma história de ficção científica militar cruzada com romance planetário, Charles W. Runyon, de que eu nunca tinha lido nada, conseguiu manter-me permanentemente na dúvida sobre o rumo que a sua história ia seguir. E nem o título, Em Tempos Havia os Bois... (bibliografia), dá alguma ajuda, apesar de até fazer pleno sentido quando chegamos ao fim. É essa a principal qualidade desta história.

O protagonista é um linguista, encarregado de estudar e tentar compreender, se possível, a língua dos nativos, caso eles existam. Não é particularmente bem aceite pelos militares que o rodeiam, que têm uma atitude francamente colonialista e consideram eventuais nativos como um problema a ser resolvido por todos os meios necessários, e se esses meios forem o genocídio, pois que sejam. O mais importante, isto é, o estabelecimento de colónias humanas em planetas distantes, tem prioridade. E ainda por cima, o protagonista tem duas características que desagradam fortemente aos militares: é obstinado e indisciplinado.

Claro que vão ser essas as características a salvar a situação, mas até aí há uma série bastante interessante de reviravoltas e descobertas, daquelas que forçam a reavaliar a situação e reorganizar a informação obtida até aí. Tudo gira em volta de uns nativos pequeninos e primitivos que a expedição encontra e de certas características da língua deles, as quais não batem certo com a sua sociedade. Porque uma língua é sempre o reflexo da sociedade que a cria, respondendo através da inovação e da adaptação às necessidades desta.

Não é muito frequente que a ficção científica se desenvolva na interseção da (exo)biologia com a linguística, e menos ainda se a essa interseção se agrega um pouco de reflexão sobre o colonialismo, o imperialismo e a xenofobia. Também por isso, mas não só, gostei bastante desta noveleta.

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