Ora aqui está uma noveleta curiosa. Escrevendo uma história de ficção científica militar cruzada com romance planetário, Charles W. Runyon, de que eu nunca tinha lido nada, conseguiu manter-me permanentemente na dúvida sobre o rumo que a sua história ia seguir. E nem o título, Em Tempos Havia os Bois... (bibliografia), dá alguma ajuda, apesar de até fazer pleno sentido quando chegamos ao fim. É essa a principal qualidade desta história.
O protagonista é um linguista, encarregado de estudar e tentar compreender, se possível, a língua dos nativos, caso eles existam. Não é particularmente bem aceite pelos militares que o rodeiam, que têm uma atitude francamente colonialista e consideram eventuais nativos como um problema a ser resolvido por todos os meios necessários, e se esses meios forem o genocídio, pois que sejam. O mais importante, isto é, o estabelecimento de colónias humanas em planetas distantes, tem prioridade. E ainda por cima, o protagonista tem duas características que desagradam fortemente aos militares: é obstinado e indisciplinado.
Claro que vão ser essas as características a salvar a situação, mas até aí há uma série bastante interessante de reviravoltas e descobertas, daquelas que forçam a reavaliar a situação e reorganizar a informação obtida até aí. Tudo gira em volta de uns nativos pequeninos e primitivos que a expedição encontra e de certas características da língua deles, as quais não batem certo com a sua sociedade. Porque uma língua é sempre o reflexo da sociedade que a cria, respondendo através da inovação e da adaptação às necessidades desta.
Não é muito frequente que a ficção científica se desenvolva na interseção da (exo)biologia com a linguística, e menos ainda se a essa interseção se agrega um pouco de reflexão sobre o colonialismo, o imperialismo e a xenofobia. Também por isso, mas não só, gostei bastante desta noveleta.
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