sexta-feira, 8 de novembro de 2019

Franz Kafka: Chacais e Árabes

Um europeu no deserto entre árabes tenta dormir mas não consegue. É assim que começa este conto curto de Franz Kafka, cujo título de Chacais e Árabes é bastante ilustrativo do conteúdo do conto. Não estamos aqui perante um texto que grite "kafkiano" a cada página, mas não deixa de ser um conto fantástico, com o seu quê de fábula e uma atmosfera que remete um pouco para os ambientes das Mil e Uma Noites.

E também tem outra coisa, bastante menos agradável: uma clara corrente subjacente de antiarabismo, dando voz ao velhíssimo preconceito cristão, ou talvez judaico-cristão (é difícil ter a certeza; Kafka era judeu mas, como qualquer judeu europeu, a base cultural em que estava mergulhado era cristã, e isso tem uma influência que pode ser decisiva), sobre os árabes serem inerentemente desonestos.

É que os chacais vêm ter com o europeu, tentando convencê-lo a chacinar todos os árabes, que apresentam como seus eternos inimigos. O europeu resiste, pouco disposto ao genocídio, mas os chacais insistem, de uma forma crescentemente ameaçadora. No entanto, no fim de contas as coisas não são bem assim e o conto termina em surpresa.

Esta é uma história muito bem contada e bastante bem escrita, mas deixa um certo sabor desagradável na boca ao terminar a leitura.

Conto anterior deste livro:

2 comentários:

  1. Olha que os judeus também não gostam muito dos árabes. Mesmo sem meter os cristãos ao barulho. Olha lá para os lados da Palestina...

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    1. Eu falo disso, precisamente. Da dificuldade que é distrinçar o que é preconceito cristão do que é judaico-cristão.

      Quanto a Israel, não é comprovação de nada, uma vez que foi esmagadoramente povoado por judeus europeus, que podem ter adquirido o preconceito dos cristãos e depois o aprofundaram ao longo da longuíssima guerra que começou assim que começou a limpeza étnica e continua ainda hoje a decorrer na Palestina.

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