sábado, 30 de novembro de 2019

Carlos Eduardo Nobre Cesário e Silva: Quem Semeia Ventos, Colhe Tempestades

Mais um autor que assina com o nome completo, este Carlos Eduardo Nobre Cesário e Silva é conhecido do pessoal ligado à FC, de outras cavalgadas e com outro nome, significativamente mais curto. Mas este Quem Semeia Ventos, Colhe Tempestades (bibliografia) não é um conto de ficção científica; é um conto de fantasia.

E é um conto de fantasia sobre uma velha que tem a casa invadida por um trasgo, i.e., um pequeno diabrete. Há nele um detalhe que é daquelas ideias magníficas que dão a um tipo aquela raivinha de "mas porque é que eu nunca me lembrei disto?": o trasgo fala com a velha em mirandês, o que tem o desejado efeito de o identificar como criatura antiga e rural, uma daquelas criaturas de um mundo mágico que a modernidade abandonou há muito. Excelente.

Mas nem tudo o resto é tão bom como esta ideia. O pior é mesmo o final, preguiçoso, pois serve-se do surradíssimo cliché do "afinal foi tudo um sonho" para despachar o conto, evitar mais explicações e resolver com esse abracadabra todas as pontas soltas do enredo. É tão pena uma ideia tão boa como a do mirandês acabar desta forma anticlimática que a raivinha que um tipo sente no fim é bem outra, mais do tipo "mas porque é que fizeste isto?"

Porque o que fica no fim é sobretudo a sensação de mais potencial desaproveitado. A FC&F portuguesa está cheia desta sensação.

Textos anteriores deste livro:

4 comentários:

  1. Faz lembrar aquele hábito de pôr magos, fadas, etc a falar algo parecido com irlandês ou galês.

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    1. Hm...

      Se te referes aos livros do Tolkien, não é bem a mesma coisa. O gajo inventou línguas inteiras. Algumas têm inspiração nas línguas célticas, mas é uma inspiração parcial, que outros elementos vêm de outras línguas ou são inteiramente originais. O vocabulário é praticamente todo dele, por exemplo.

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    2. Não, é mesmo mais aqueles filmes arturianos e afins, em que por vezes se usa expressões mais ou menos célticas sobretudo no momento de lançar magicas; p.ex., o "Charm of Making" no filme Excalibur.

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    3. Ah, mas aí faz absoluto sentido, porque as lendas arturianas são basicamente sobre as invasões anglo-saxónicas dos territórios até aí ocupados por povos célticos. Portanto faz completo sentido que os povos originais, retratados pelos anglo-saxões como pagãos e feiticeiros (devido à religião druídica que muitos seguiam, provavelmente), falem línguas célticas. E que as criaturas com quem esses povos alegadamente comunicariam também as falassem.

      Ou seja, também não é de todo a mesma coisa.

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