E aqui temos um conto que me deixou ambivalente: há nele coisas que me agradaram muito, outras nem por isso. Começando por uma destas últimas, Adriano Santos não se mostra aqui tão bom a manusear as palavras como alguns (ou até mesmo, talvez, a maioria) dos seus colegas nesta antologia, apresentando uma prosa com algumas fragilidades e sem aquela consistência estilística que está presente noutros textos. Não que seja mau: é competente. Mas falta-lhe um pouco mais de rasgo.
Por outro lado, eis uma coisa que me agradou bastante: O Animal Enjaulado é um conto fantástico. E é um conto fantástico com um grau razoável de sofisticação, servindo-se de uma plasticidade da realidade com muito de surrealista, e também com bastante simbolismo à mistura, para contar a história de um homem que está ou se sente encurralado pelo mundo que o rodeia, cuja mudança permanente só serve para lhe constranger a liberdade. Um dia acorda, e, enquanto no prédio em frente um velho o olha fixamente, descobre que a porta do quarto se reduziu até quase não conseguir passar por ela. E isso é só o começo: daí para a frente vai dando por si em situações cada vez mais problemáticas, a que os outros se mostram totalmente alheios, julgando que está tudo na sua cabeça, e em que o tal velho, que parece estar permanentemente a fitá-lo, marca presença praticamente constante.
Todo o desenvolvimento da história é muito interessante, um pesadelo daqueles em que quanto mais se faz piores ficam as coisas, e o leitor (ou este leitor, pelo menos) fica suspenso da história, na expetativa de saber onde o autor o leva. E isto leva-nos a um segundo ponto que me agradou: o final. Pareceu-me bastante anticlimático — e um tanto ou quanto infantil, também — reduzir tudo aquilo a mero simbolismo de relações familiares, estreitar a amplidão castradora do mundo inteiro a um só progenitor.
Tudo somado, este é um conto com aspetos muito interessantes, muito promissores, mas que não me parece que passe do razoável.
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