quarta-feira, 16 de dezembro de 2020

Eduardo Madeira: Um Rio Chamado Angústia

Já o disse várias vezes após a leitura de textos criados por humoristas habituados a encenar guiões em televisão, em rádio ou em espetáculos de comédia, mas vou mais uma vez repetir: há uma diferença, que pode ser muito significativa, entre ler um texto enquanto obra literária, sem mais, e vê-lo representado por um ator ou humorista "cénico", digamos assim.

É claramente o caso deste conto de Eduardo Madeira. Constituindo um longo ensaio pretensioso sobre um rio ficcional chamado Angústia, cheio de gags sem grande graça e frequentemente absurdo, eu até conseguiria ver Um Rio Chamado Angústia a ser apresentado por Eduardo Jaime, o presunçoso e incompetente intelectualoide que Madeira encarnou no programa Paradoxo da Tangência. Até talvez tivesse graça, devido ao contraste entre o disparatado do texto e a apresentação deadpan que é imagem de marca de Eduardo Jaime. Só que um texto literário é outra coisa. Um texto literário tem de se sustentar por si próprio.

E não, este não se sustenta. Mesmo não sendo muito longo, a leitura arrasta-se penosa pelas suas poucas páginas, raramente dando para sequer se começar a esboçar um sorriso. Nem tentar imaginar a leitura de Eduardo Jaime ajuda, porque um Jaime imaginado é algo diferente de um Jaime visto e ouvido. Fica aquém. E de resto, eu nem tenho bem a certeza de isto ter graça se apresentado pelo Jaime; limito-me a admitir essa possibilidade. Lido não tem, lamento. E como literariamente também está longe de ser uma obra-prima, fica como um dos piores textos desta coleção de "contos digitais", como o DN lhes chamou.

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