segunda-feira, 7 de dezembro de 2020

Charles Nodier: Lídia ou a Ressurreição

Para o leitor que eu sou, dificilmente poderia ter sido escolhido um conto pior do que esta noveleta, Lídia ou a Ressurreição (bibliografia), para encerrar uma compilação da ficção curta de Charles Nodier. É que junta em si duas características que me desagradam bastante: romantismo e beatice.

E ainda por cima fá-lo de uma forma particularmente desinteressante. Oh, Nodier escrevia muito bem; quanto a isso não há qualquer motivo para narizes torcidos. O problema é que aqui se reencontra o surradíssimo cliché romântico da mulher enlouquecida devido à morte do amado, pelo qual seria capaz dos maiores sacrifícios, e depois o não menos surrado cliché do fantasma do morto lhe aparecer em sonhos, de uma forma tão vívida que a convence da sua realidade.

Em todo o caso, e apesar de tudo, se esses clichés estivessem concretizados de uma forma interessante, poderiam ter resultado num texto de leitura agradável. Mas não. Na verdade não era isso o que Nodier queria aqui fazer. O seu interesse, o seu motivo para escrever este conto, é teológico, e por isso envereda por uma longa dissertação sobre a natureza do Além, que coloca na boca da louca, a qual explica ao narrador o que o fantasma (ou alma, ou lá o que é) do amado lhe tinha por sua vez explicado. Em sonhos, claro.

E o resultado, por mais bem escrito que esteja, e está, é sobretudo muito, muito aborrecido. Esta é uma daquelas histórias que só têm verdadeiro interesse para aqueles que se interessam pela questão que lhes está subjacente. Não é o meu caso: especulações teológicas sobre céu, inferno e purgatório e as relações destes lugares mitológicas com o mundo terreno interessam-me tanto quanto me interessam as peripécias de programas ao estilo Big Brother: zero. Redondinho.

Teria dispensado alegremente a leitura desta noveleta.

Contos anteriores deste livro:

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