quinta-feira, 10 de dezembro de 2020

Léon Bloy: Os Prisioneiros de Longjumeau

Imaginem como seria chegarem um dia a uma terra qualquer, na companhia apenas da vossa cara metade, e acabarem por descobrir que são incapazes de voltar a partir. Talvez não precisem de imaginar; talvez alguém já o tenha imaginado por vocês. É um enredo que não é particularmente incomum nas histórias de terror e em algumas de outros géneros, e talvez até já o tenham visto nalgum filme ou série de TV. Stephen King, só para dar um exemplo, tem histórias dessas. E Léon Bloy também.

É isso, precisamente, o que são Os Prisioneiros de Longjumeau (bibliografia): um casal de viajantes que chega a uma terra razoavelmente insignificante e nunca mais de lá consegue sair. Bloy vai contando esta história na voz de um amigo do casal que fica a saber dela por ter recebido correspondência do marido, na qual este lhe conta a misteriosa ocorrência. Misteriosa porque nada havia de físico que os impedisse de partir; simplesmente nunca conseguiam chegar a horas para apanhar o comboio ou havia sempre uma avaria, um esquecimento, qualquer coisa que cortava cerce qualquer viagem planeada.

É bom, este conto. O tema é hoje suficientemente batido para recomendar uma abordagem diferente a quem queira explorá-lo nos dias que correm, mas Bloy fê-lo há mais de cem anos, muito antes da grande maioria das outras variações sobre ele terem visto a luz do dia. E a prosa tem tanta qualidade como seria de supor. Mas mesmo assim não creio que o conto passe do bom, pois não existe nele grande novidade narrativa. O narrador é o tradicional tipo que conhece uma história e resolve contá-la, absolutamente típico da sua época. Não é uma história extraordinária, esta; julgo até que fica algo distante disso. Mas é boa.

Textos anteriores deste livro:

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